Planalto intervém e Sarney deve se manter no comando do Senado

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Por FERNANDO EXMAN
Atualização:

Um dia depois de o governo entrar em campo para preservar José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado, integrantes da oposição e da base aliada afirmaram nesta quinta-feira que diminuiu consideravelmente a possibilidade de o senador renunciar ao cargo. DEM, PSDB e PDT continuam a pedir que Sarney se afaste do cargo até a conclusão das investigações sobre fraudes na administração da Casa, enquanto o PT recuou de um pedido de afastamento após ser enquadrado pelo Planalto. Líderes do PT chegaram a sugerir na quarta-feira, em reunião reservada com Sarney, que ele se licenciasse por 30 dias, mas voltaram atrás a fim de preservar a aliança com o PMDB --partido essencial para garantir a governabilidade do Executivo no Senado e uma base de apoio para a futura candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República. "Ele nunca foi homem de renúncia. O perfil dele é de acumular poder. Ele tem apetite por poder. Essa é a alma do oligarca", afirmou a jornalistas o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que também foi envolvido em denúncias sobre as irregularidades na Casa. "A situação do Sarney melhorou muito. Está bem mais tranquila", disse à Reuters um senador petista que pediu para não ser identificado. Na véspera, diante da resistência dos petistas em sinalizar um apoio explícito ao senador, aliados de Sarney espalharam a informação que o presidente do Senado não se afastaria, mas poderia deixar o cargo definitivamente se fosse abandonado, por meio de uma renúncia. Na avaliação de aliados, embora ainda vulnerável a possíveis novas denúncias, Sarney está agora em uma posição relativamente mais confortável. O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), voltou a dizer nesta quinta que a bancada não pretende gerar um racha na base de sustentação do governo no Congresso. Mercadante, que ocupou a tribuna por mais de três horas, argumentou que Sarney não pode ser apontado como único culpado pela crise, e passou a atacar a oposição. Segundo ele, o DEM também tem responsabilidade pelas denúncias porque tem ocupado nos últimos anos a primeira-secretaria da Casa, cargo responsável pela gestão da instituição. "Minha combatividade está a serviço do presidente Lula", disse Mercadante. Esse discurso foi adotado pelo PT depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou durante viagem ao exterior que a oposição queria tomar o controle do Senado ao forçar a saída de Sarney, já que o primeiro vice-presidente é o senador Marconi Perillo (PSDB-GO). "Eles estão tentando desviar o foco", rebateu o líder do DEM, José Agripino Maia (RN). Durante o dia, Sarney esteve no Senado e, sem presidir a sessão, recebeu outras demonstrações de apoio. Pela manhã, recebeu visita do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O senador também conversou com o presidente Lula por telefone. Lula, que retornou da Líbia na noite de quarta-feira, se reunirá com a bancada de senadores do PT nesta noite para tratar da crise do Senado, e deve se encontrar com Sarney na sexta-feira. Apesar do cenário mais favorável a Sarney, sua permanência no cargo pode acirrar o clima de disputa entre governo e oposição. "A crise vai se prolongar", ameaça Virgílio. O calendário, no entanto, trabalha a favor de Sarney. O recesso dos parlamentares tem início em duas semanas. (Reportagem adicional de Natuza Nery)

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