Pobres acusam ricos de mesquinharia em reunião da ONU pelo clima

PUBLICIDADE

Por GERARD WYNN E GABRIELA BACZYNSKA
Atualização:

Os países em desenvolvimento acusaram os ricos de mesquinharia neste sábado no final das conversações da reunião da ONU sobre clima que lançou apenas um pequeno fundo para ajudar os países mais pobres a enfrentar secas, inundações e elevação do nível dos mares. Eles afirmaram que o tamanho do Fundo de Adaptação --no valor de apenas 80 milhões de dólares-- é um mau presságio no meio das negociações de dois anos sobre um novo tratado para enfrentar o aquecimento global a ser definido em Copenhague, no final de 2009. "Estamos muito tristes e desapontados", disse o ministro do Meio Ambiente da Colômbia, Juan Lozano, sobre as negociações feitas entre os dias 1o e 12 de dezembro, que entraram pela madrugada de sábado e foram eclipsadas pelas preocupações de que a crise econômica global esteja secando as fontes financeiras. "O lado humano das mudanças climáticas é o sofrimento de nossos órfãos e nossas vítimas e isso não foi considerado aqui. É um mau sinal para Copenhagen", afirmou Lozano. "Devo dizer que este é um dos momentos mais tristes que eu testemunhei em todos esses anos", afirmou o representante da Índia, Prodipto Ghosh, aos delegados das 189 nações presentes ao encontro, acrescentando que ele comparece a reuniões da ONU sobre clima há 12 anos. Várias outras nações, incluindo Brasil, Costa Rica e Maldivas fizeram comentários semelhantes. Muitos delegados expressaram esperança de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, adotaria políticas climáticas mais agressivas. Os ministros do Meio Ambiente presentes à reunião na Polônia estabeleceram as regras para o Fundo de Adaptação, que ajudará países pobres a construírem defesas contra inundações, desenvolverem plantações resistentes à seca ou produzirem alertas contra tempestades. O ministro do Meio Ambiente da Polônia, Maciej Nowicki, o anfitrião, afirmou que o lançamento do fundo foi o maior feito de Poznan. O fundo, que poderá começar a funcionar já a partir de 2009, tem apenas 80 milhões de dólares, mas poderia chegar a 300 milhões de dólares por ano até 2012. As projeções da Organização das Nações Unidas são de que os países pobres precisarão de dezenas de bilhões de dólares por ano até 2030 para enfrentar as mudanças climáticas. Os países em desenvolvimento acusaram os ricos de bloquear um acordo em Poznan para um mecanismo de financiamento mais amplo, que poderia levantar cerca de 2 bilhões de dólares por ano. O assunto foi adiado até 2009. Yvo de Boer, chefe do Secretaria sobre Mudanças Climáticas da ONU, afirmou que as conversações conseguiram tudo que elas poderiam, mas admitiu que ficou no ar "alguma amargura". "Metade do trabalho (para Copenhague) não foi feito", disse. Ainda assim, ele afirmou que Poznan conseguiu a tarefa principal de avaliar o progresso para um novo tratado climático global em Copenhague em dezembro de 2009, para substituir o Protocolo de Kyoto. Mas os ambientalistas discordam. "Estamos desesperadamente desapontados com o progresso feito aqui", afirmou Stephanie Tunmore, do Greenpeace. "O resultado final não é difícil de contabilizar: 'O que fizemos em 2008? Não muito."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.