Políticos veem cinismo em declarações de Lula

Comparação de presos comuns no Brasil e presos políticos em Cuba é qualificada de oportunista

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Por Leandro Colon e Felipe Recondo
Atualização:

BRASÍLIAAs palavras do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre os presos cubanos, em entrevista dada ontem à Associated Press, foram consideradas "oportunistas" e "incoerentes" por parlamentares das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e Senado e também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), Lula erra ao comparar os presos comuns dos presídios brasileiros com os detidos em Cuba por crimes políticos."É mais do que oportunismo, é de um cinismo atroz. Jamais se deve comparar alhos com bugalhos", afirmou Jungmann."É preciso denunciar a situação caótica dos presídios brasileiros, mas também devemos ter coragem de condenar o tratamento (dispensado) aos presos cubanos", afirmou o deputado, integrante da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.O presidente da comissão, deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP), compartilhou do mesmo discurso."O Brasil tem de ser contra a prisão política. Todo o esforço do país em ter uma política externa de relevo vai por água abaixo com esse discurso do presidente", afirmou.Segundo Fernandes, o tema pode ser discutido na primeira reunião da comissão, marcada para hoje. Jungmann criticou ainda a declaração em que Lula afirma que não vai se intrometer na legislação, muito menos na Justiça cubana.Segundo o deputado, Lula interveio em Honduras porque acreditava que o presidente deposto, Manuel Zelaya, sofrera um golpe da "direita", embora tenha sido "deposto judicialmente".Mas no caso de Cuba, uma "ditadura de esquerda, Lula diz que não se intromete". O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), classificou de "incoerente" essa declaração de Lula sobre não intervenção."Tivemos uma ação de interferência na Itália, quando ele não quis extraditar o terrorista Cesare Battisti. É uma posição ao sabor dos ventos", frisou o tucano."Acredito que o presidente esteja sendo incoerente com o seu passado. Não é possível comparar preso político com criminoso comum", afirmou. OAB A posição dos parlamentares foi seguida pelo presidente da OAB nacional, Ophir Cavalcante. "É uma questão de viés ideológico. A leitura que o governo Lula faz do regime de Cuba é de que é um governo popular e socialista e, por isso, estaria legitimado. Nossa sociedade tem outra formação que não condiz", afirmou."Parece que o presidente confunde a greve com fins políticos com greve de fome feita por criminosos comuns. É uma comparação que não tem cabimento", acrescentou Cavalcante. "Eu não sei que finalidade há por trás disso, mas essa é uma comparação sem nenhum tipo de fundamento."

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