Porque as rãs estão morrendo

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Por Fernando Reinach
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Sapos, rãs e salamandras estão desaparecendo. O alarme tocou em um congresso de herpetologistas na década de 80. Após alguns anos, durante os quais os biólogos debateram se o desaparecimento não seria uma flutuação sazonal no número de animais, eles foram monitorar as populações de anfíbios. Hoje, todos concordam: esses simpáticos animais, que vivem parte de sua vida na água e parte em terra firme, são provavelmente o grupo de vertebrados que caminha com maior velocidade para a extinção. Em mais de 40% das espécies, as populações encolhem; 30% estão sob risco de extinção e mais de 400 espécies estão ameaçadas de extinção imediata. E cerca de cem que existiam em 1980 são consideradas extintas. As causas desse rápido declínio são desconhecidas, mas o fato de esses animais dependerem de dois ambientes distintos os torna alvos fáceis das mudanças ambientais. Até a luz elétrica, que atrai os insetos da superfície dos pântanos para o alto dos postes e para longe das línguas adesivas das rãs, foi listada como culpada. Mas a extinção de algumas espécies em áreas preservadas na América Central levanta a suspeita que múltiplas causas estão envolvidas no declínio das populações.Apesar de as causas fundamentais serem motivo de debate, o fato é que o fungo Batrachochytrium dendrobatidis está se espalhando pelo mundo dos anfíbios. Não se sabe se ele só acelera o processo de extinção ou se ele é a causa inicial do declínio. Quando ele se instala na pele dos anfíbios, causa uma micose superficial e os animais morrem em semanas. Um estudo demonstrou como o ataque do fungo acaba por causar a paralisação do coração dos anfíbios.Os cientistas examinaram a pele de rãs infectadas. Ela tem papel importante no transporte de sal e na manutenção do meio interno do animal. Nos mamíferos, esse papel é desempenhado principalmente pelos rins e nossa pele é praticamente impermeável à água e aos sais. Da mesma maneira que nossos rins retiram sais da urina e os bombeiam de volta para o sangue, nos anfíbios a pele tem a função de bombear íons de sódio e potássio para o interior do corpo do animal. Quando a pele é infectada pelo Batrachochytrium dendrobatidis, essa capacidade de é danificada e a concentração de íons no interior do corpo diminui. Com a queda da quantidade de íons, o coração perde eficiência e finalmente para de bater. A infecção da pele dos anfíbios causa uma doença similar ao que ocorre conosco quando sofremos uma falência renal. Isso explica porque uma infecção superficial pode levar à morte rápida desses animais.É pouco provável que essa descoberta ajude a salvar os anfíbios, mas demonstra que esses animais, por interagirem mais diretamente com o meio ambiente, são extremamente sensíveis às mudanças. No final dessa investigação, muito provavelmente a culpa será atribuída ao predador-mor, o Homo sapiens. *fernando@reinach.comBiólogoMais informações: Pathogenesis of chytridiomycosis, a cause of catastrophic amphibian declines. Science, vol. 326

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