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Presidenciáveis deixam cautela e partem para confronto em último debate do 1º turno

A economia foi tema de embate entre os três principais candidatos ao Planalto

Por MARIA PIA PALERMO E EDUARDO SIMÕES
Atualização:
Presidenciáveis posam para foto no último debate antes das eleições Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

'Os três principais candidatos à Presidência deixaram a cautela de lado e partiram para o ataque entre si no debate realizado pela TV Globo, o último antes do primeiro turno da eleição no domingo e o mais acalorado da campanha, que teve a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) como principal alvo.

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O tema da corrupção voltou a ser munição para os adversários mirarem em Dilma. A candidata do PSB, Marina Silva, chegou a discutir com a presidente após o tempo destinado às duas acabar justamente numa pergunta sobre as denúncias de corrupção na Petrobras.

Aécio Neves (PSDB) aproveitou um confronto direto com a petista para afirmar que, segundo a Polícia Federal, o governo Dilma "entregou" a Petrobras "a uma quadrilha".

Marina também usou o tema corrupção para rebater a estratégia que Aécio tem adotado durante a eleição de lembrar os 24 anos que a candidata do PSB foi integrante do PT, ministra do Meio Ambiente do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, como o tucano gosta de lembrar, se manteve no governo durante o escândalo do mensalão.

"Vossa excelência também esteve em um partido que praticou o mensalão, quando foi na votação da releição. Foi ali que começou o mensalão", disparou Marina ao lembrar as denúncias de compra de voto no Congresso quando da aprovação da emenda da reeleição, no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Eu saí do PT exatamente para manter as minhas convicções", completou a candidata do PSB.

Aécio, por sua vez, respondeu afirmando que as denúncias de compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, que permitiu que Fernando Henrique conquistasse um novo mandato em 1998, não foram comprovadas.

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"Me surpreende que a senhora faz uma defesa do mensalão do PT ao compará-lo a denúncias que jamais foram comprovadas."

Ainda sobre as denúncias de irregularidades na Petrobras, Dilma voltou a afirmar que demitiu o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e foi contestada tanto por Aécio quanto por Marina, que lembraram uma ata de uma reunião do Conselho de Administração da empresa que afirma que Costa renunciou ao cargo e foi elogiado pelos serviços prestados.

"A presidente acaba de repetir aqui alguns segundos atrás que demitiu o senhor Paulo Roberto Costa da Petrobras. Não é o que diz a ata do Conselho, está aqui nas minhas mãos", disse Aécio. "A ata do Conselho da Petrobras diz que o diretor renunciou ao cargo e, pasmem, recebe elogios pelos relevantes serviços prestados à companhia."

Dilma recorreu ao depoimento dado por Costa a uma CPI no Congresso em que afirma que lhe foi pedido que escrevesse uma carta de demissão e acusou os adversários de "má fé".

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"Se dá sempre no serviço público o direito da pessoa pedir demissão ao se afastar do cargo", disse Dilma, ao que o tucano retrucou, posteriormente, pedindo que a petista explicasse quais foram os "relevantes serviços prestados à companhia".

Também foi justamente num embate sobre corrupção que o clima esquentou entre Dilma e Marina. A candidata do PSB lembrou que Costa está em um processo de delação premiada para reduzir sua pena e questionou a presidente se houve uma "demissão premiada" no caso do ex-diretor.

"Marina, vamos colocar os pingos nos is. O seu diretor, nomeado por você diretor de fiscalização do Ibama (quando Marina era ministra do Meio Ambiente) foi afastado no meu governo por crime de desvio de recursos", afirmou Dilma.

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"Eu não saí por aí, Marina, dizendo que você conhecia corrupção e acobertava corrupção."

Após o duelo, as duas continuaram discutindo com os microfones desligados e sob os pedidos do mediador para que retornassem aos seus lugares.

ECONOMIA E BOLSA-FAMÍLIA A economia também foi tema de embate entre os três principais candidatos ao Planalto. Em mais um confronto direto com Dilma, Aécio questionou à presidente se ela havia "fracassado" na gestão econômica. "A senhora acabou de nos brindar com uma pérola, de que 'a inflação está sob controle'; provavelmente a senhora considera também adequado o crescimento do Brasil", ironizou o tucano, antes de emendar a pergunta sobre o fracasso econômico. "Fui bem sucedida quando se compara com o que aconteceu no governo do qual o senhor era líder, que quebrou o país três vezes", respondeu Dilma, numa referência aos momentos que o governo Fernando Henrique Cardoso teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A proposta de Marina sobre a independência do Banco Central, que a campanha de Dilma tem usado como munição contra a rival, tornou-se tema de confronto direto entre ambas, quando a candidata do PSB lembrou que a presidente defendeu a autonomia do BC na campanha de 2010. "Eu sugiro que a senhora leia o que escreveram no seu programa, porque a senhora está deliberadamente confundindo autonomia com independência", disse Dilma, ao que Marina respondeu afirmando que a presidente adotava um discurso "das eleições, não das convicções". Outro tema de embate entre os três principais rivais foram os programas sociais do governo federal. Aécio e Marina voltaram a criticar os boatos de que, se vencerem, acabarão com o Bolsa Família e prometeram manter o programa. Dilma, por sua vez, disse ser a melhor candidata para manter esses programas. "Vocês falam que vão continuar os programas sociais do governo. Quem é que pode achar que quem nunca fez os programas vai fazer melhor do que quem os construiu?", indagou. Durante o debate, Aécio e Marina prometeram "aprimorar" o Bolsa Família e a candidata do PSB prometeu que, se eleita, os beneficiários do programa terão um décimo terceiro salário. [nL2N0RY068] Se Dilma foi alvo dos rivais no tema da corrupção, Marina foi criticada por Dilma pelo seu discurso de "nova política". A candidata do PSB atacou a petista pelo fato de ela "nunca ter sido vereadora" e ter se tornado presidente. A presidente contra-atacou ironizando o discurso que tornou-se mantra da adversária. "Quer dizer, candidata, que uma pessoa que não fez a carreira vereadora, deputada, senadora, ela não pode ser presidenta? Onde isso está escrito? Não na nossa Constituição", disse.

HOMOFOBIA Entre os candidatos dos partidos chamados nanicos, o ponto alto foram os embates entre Levy Fidelix (PRTB) e Eduardo Jorge (PV) e entre Luciana Genro (PSOL) e Fidelix, por conta de declarações consideradas homofóbicas e de incitação à violência contra homossexuais dadas pelo candidato do PRTB em debate realizado no último domingo. Jorge disse que daria a chance de Fidelix pedir desculpas pelos comentários, ao que o candidato do PRTB rebateu afirmando que o rival não tinha "moral" e que fazia "apologia ao crime" por defender a descriminalização da maconha e do aborto. Já a candidata do PSOL afirmou que Fidelix deveria ter sido preso e algemado pelos comentários, aos quais ela comparou com o dos nazistas contra os judeus. O candidato do PRTB, por sua vez, negou que tenha incitado a violência e disse que a Constituição lhe garante o direito de livre expressão.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)

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