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Produção de gasolina cai 3% no ano

Retração foi registrada nas refinarias da Petrobrás até outubro e reflete a mudança do perfil do mercado

Por Nicola Pamplona
Atualização:

A queda nas vendas de gasolina levou a Petrobrás a adotar mudanças na gestão de suas refinarias. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a produção de gasolina no País teve redução de 3% até outubro, para 16,4 bilhões de litros. O Brasil é exportador do combustível, mas os mercados americano e europeu também vêm enfrentando retração. Além disso, a estatal não consegue a mesma rentabilidade em suas vendas externas porque a gasolina brasileira não atende padrões de qualidade dos principais consumidores."A Petrobrás dispõe de certa flexibilidade para adequar seu perfil de produção ao perfil de demanda, tanto interna como externa", comenta a empresa, em nota enviada ao Estado, na qual confirma a estratégia de reduzir a produção. "O principal motivo para essa adequação na produção foi a redução do mercado para esse derivado, para a qual contribuiu efetivamente o expressivo avanço no consumo de álcool hidratado." Segundo especialistas, a manutenção da tendência de crescimento do consumo de etanol depende da política de preços da Petrobrás para a gasolina. O preço do combustível está praticamente estável para o consumidor final desde 2005 - houve dois reajustes no período, mas que não chegaram às bombas por conta de alterações na carga tributária. Desde outubro, a gasolina e o diesel estão acima dos patamares praticados no exterior, estratégia que garantiu à área de refino da Petrobrás um lucro de R$ 5,6 bilhões nos nove meses de 2009, reduzindo o impacto da crise sobre a saúde financeira da companhia. Ao mesmo tempo em que garantiria um avanço sobre o mercado de combustíveis automotivos, portanto, a redução de preços representaria redução nas margens de lucro da estatal."O preço da gasolina é quase um preço controlado, enquanto o do etanol é livre e segue as variações do mercado", comenta o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Uma possível redução é vista com maus olhos pela indústria canavieira, que espera recuperar margens de lucro em 2010. "Lutamos por clareza nas regras. É difícil conviver com um concorrente que não acompanha regras de mercado", diz o diretor técnico da União da Indústria de Cana de Açúcar, Antônio Pádua."Esperamos em 2010 um mercado mais equilibrado, com preços que remunerem o investimento e com consumo não tão espalhado pelo País", continua Pádua. Ele defende que preços em níveis um pouco mais altos do que os dos últimos anos mantém a competitividade nos mercados mais próximos à produção ao mesmo tempo em que justificam investimentos em novas usinas.Este ano, o preço do etanol só não esteve competitivo com relação à gasolina no Acre, Pará, Amapá e Roraima, onde não há produção e os custos do transporte são altos. Em todos os outros Estados, o etanol bateu o derivado do petróleo em pelo menos um mês durante o ano (a conta considera que o primeiro deve custar até 70% do preço do segundo). Em 10 Estados, incluindo São Paulo, o etanol ficou mais em conta em todos os meses até novembro.Por causa dos baixos preços nos últimos anos, diversos projetos de expansão foram suspensos e acelerou-se o movimento de compra de empresas em dificuldades por grupos maiores. Pádua calcula que, dos 23 projetos novos previstos para 2009, 19 entrem em operação até o final do ano. O porcentual de projetos suspensos deve ampliar nos próximos dois anos. "Só estão entrando aqueles iniciados em 2006 e 2007.""Há muita pressão política nessa questão do etanol", aponta Pires. "Para a Petrobrás, a solução é produzir menos gasolina", completa. A estatal sabe disso e já reduziu o volume do combustível em seus novos projetos de refino. A refinaria de Pernambuco e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, por exemplo, não produzirão gasolina. O parque atual de refino também está sendo preparado para produzir mais óleo diesel. Entre janeiro e novembro, diz a ANP, a produção do combustível foi 3,8% maior do que no mesmo período do ano anterior. O Brasil é importador de diesel.A Petrobrás estima que a gasolina representará só 17% do consumo de combustíveis no País em 2020. O etanol hidratado chegará a uma participação de 75%. No novo planejamento estratégico, a companhia decidiu ampliar a atuação no mercado de etanol, abrindo inclusive a possibilidade de comprar usinas existentes. NÚMEROS16,4 bilhões foi a produção de gasolina até outubro deste ano R$ 5,6 bilhõesfoi o lucro acumulado pela área de refino da Petrobrás até outubro17% é o quantorepresentará a gasolina do consumo total de combustíveis em 2020

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