Programa usa biotecnologia para salvar palmito juçara

Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, está desenvolvendo um grande projeto de conservação do palmiteiro, que inclui melhoramento genético, criação de banco de germoplasma, reflorestamento e parcerias com a iniciativa privada

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Por Agencia Estado
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A Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, está desenvolvendo um grande projeto de conservação do palmiteiro, que inclui melhoramento genético, criação de banco de germoplasma, reflorestamento e parcerias com a iniciativa privada. Para dar suporte ao programa, cujo objetivo é evitar a extinção do palmito juçara, ameaçado pela exploração ilegal e predatória, foi inaugurado no início deste mês um novo Laboratório de Biotecnologia Florestal, do Departamento de Ciências Florestais da Universidade. Segundo a doutora Maisa Pimentel Martins Corder, responsável pelo Laboratório, o projeto envolve dez pesquisadores e alunos do curso de engenharia florestal, que desenvolvem técnicas de embriogênese somática (cultura de tecidos), como forma de fazer clonagem da espécie. O objetivo é fazer a conservação in vitro do palmiteiro, através de germoplasma (banco de gens). Além disso, o Laboratório trabalha com marcadores moleculares, utilizados para quantificar a variabilidade genética de populações de palmiteiro do Estado. O novo laboratório tem uma área de 300 metros quadrados - o anterior tinha 100 m2 - e contou com recursos de cerca de R$ 300 mil do Fundo Nacional do Meio Ambiente. Além de ser pioneiro no Rio Grande do Sul, o projeto é talvez o maior já desenvolvido no País para conservação da palmeira juçara. O investimento total, até o momento, incluindo recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é da ordem de R$ 700 mil. Um dos pontos altos do programa, conforme a coordenadora, é o consorciamento de palmiteiro com espécies exóticas, como eucalipto, pinus e acácia negra, em parceria com o setor privado, para a formação de bancos de germoplasma, em diversos locais do Estado. "As árvores plantadas pelas empresas não poderão ser cortadas e estarão disponíveis para a colheita de sementes para o programa de melhoramento genético", explica Maisa. Até o momento, participam do projeto a Aracruz (ex-Klabin/Riocel), em Barra do Ribeiro; Flosul Indústria e Comércio de Madeira, em Capivari do Sul; Agroseta, em Butiá; Tecnoplanta, em Barra do Ribeiro; Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), em Santa Cruz do Sul; Reflorestadores Unidos e Cambará Produtos Florestais, em Cambará do Sul. Além disso, a UFSM produziu 26.600 mudas de palmiteiro, que serão plantadas na própria universidade e em pequenas propriedades do Estado. Somadas às mudas das empresas, devem ser plantadas, até o fim deste ano, mais de 50 mil palmeiras juçaras. "Estamos fazendo cadastro de agricultores interessados em receber as mudas, tanto para repovoamento de matas nativas, quanto para plantio consorciado. O objetivo é que os pequenos proprietários possam utilizar o palmito como complemento de renda, enriquecendo suas florestas ou aumentando a produção por área", diz a coordenadora do projeto. Conforme a pesquisadora, um exemplo é a acácia negra, espécie australiana usada para a produção de papel e celulose e tanino - substância retirada da casca da planta, da qual o Brasil é o segundo maior exportador mundial. "São mais de 100 mil produtores no Rio Grande do Sul, que podem plantar também palmiteiros. Iniciamos o projeto com 14 agricultores, mas o potencial de crescimento é exponencial", acredita. Segundo Maisa, atualmente existem cerca de 100 hectares de palmeiras juçaras no Estado, ocorrendo de forma escassa dentro de pequenas propriedades rurais, e apenas quatro hectares de estande puro, ou seja, florestas apenas de palmiteiros. No entanto, além da grande importância social e econômica, a espécie é fundamental para a biodiversidade. "A situação dos palmitais no Rio Grande do Sul é um reflexo da situação de degradação em que se encontra a Mata Atlântica. Mas o juçara é uma espécie-chave para o funcionamento desse ecossistema. Tanto o pólen como os frutos e sementes são muito abundantes durante todo o ano e são importantes para a sobrevivência de várias espécies de insetos, aves, roedores e até alguns mamíferos."

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