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Queimadas podem transformar a Amazônia em fonte de poluição

Ainda não se sabe se, a cada ano, a floresta absorve mais carbono do que o que é liberado nas queimadas

Por Agencia Estado
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A Floresta Amazônica, que cumpria um papel importante no equilíbrio da atmosfera, ao retirar dióxido de carbono do ar, pode ter se transformado em um emissor do gás, devido à queima indiscriminada de suas árvores, segundo cientistas. "Há uma grande dúvida se a Amazônia é uma fonte de carbono atmosférico ou um local onde ele é armazenado", explicou Diane Wickland, diretora do programa de ecologia terrestre da Nasa. Os sete milhões de quilômetros quadrados de floresta ao redor do rio Amazonas e seus afluentes, uma extensão maior que a do continente europeu, purificam o ar, ao reterem dióxido de carbono - um dos principais gases causadores do aquecimento global. O carbono, capturado pelas plantas durante a fotossíntese, é fixado na biomassa e no solo. "Quando se faz o cálculo aritmético para tentar ver se em um ano entra mais (dióxido de carbono na Amazônia) do que sai, algumas coisas não ficam claras", disse Wickland. Ao serem consumidas pelo fogo, as árvores soltam o carbono de suas fibras na atmosfera e, com isso, a contaminam, ao invés de limpá-la. Descobrir se a Amazônia tem um efeito positivo ou não no sistema planetário de reciclagem do carbono é fundamental para entender as alterações climáticas e tomar medidas para combatê-las, segundo os cientistas. Essa será uma das prioridades para os próximos anos do chamado Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA, em inglês), segundo Wickland. Brasil e EUA assinaram nesta sexta-feira, no Museu de História Natural de Washington, um acordo para manter o projeto, assim como outro chamado "Determinantes Biológicas de Fragmentos Florestais", ambos dirigidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). "A Amazônia não é um ecossistema, é um conjunto muito grande de ecossistemas", cuja dinâmica é muito importante para o clima mundial, explicou Adalberto Luis Val, diretor do Inpa, que participou da cerimônia. Mediante o uso de dados enviados por satélites da Nasa, entre outros recursos, o LBA já mudou algumas de suas concepções. Antes, "pensávamos que a floresta captava mais carbono, era mais produtiva na temporada de chuvas porque tinha mais umidade, mas estávamos errados", disse Wickland. Os pesquisadores do LBA, maior projeto do mundo sobre a interação entre as florestas tropicais e a atmosfera, demonstraram que as plantas capturam mais dióxido de carbono na época de seca, porque há menos nuvens que "escondam" o sol. Ao mesmo tempo, as grandes árvores amazônicas têm raízes profundas que lhes permitem chegar a solos úmidos. Por outro lado, as zonas desflorestadas para cultivo ou ocupadas por florestas "secundárias", que cresceram após podas, não contam com essas raízes profundas e são mais suscetíveis à seca, como a sofrida no ano passado, a pior em mais de 50 anos na região. Outra das descobertas do LBA é de que algumas regiões da Bacia do Amazonas se comportam como um "oceano verde". No mar, os núcleos de condensação que as nuvens formam são diferentes da terra, porque o tamanho das partículas que transportam é diferenciado. Na época de chuvas, a umidade é tanta que as copas das árvores na zona ocidental do Amazonas atuam como a superfície de um oceano, segundo os cientistas. "Os meteorologistas coçavam a cabeça e diziam ´não posso acreditar no que acontece aqui´", quando se deram conta do efeito, segundo Wickland. A descoberta "muda substancialmente a forma pela qual calculamos a importância da Amazônia no clima mundial", acrescentou.

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