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Químicos que confundem mosquito são aposta para nova geração de repelentes

Segundo pesquisa, elementos atrapalham a identificação, por parte dos insetos, do CO2 emitido por humanos.

Por James Gallagher
Atualização:

Pesquisadores americanos desenvolveram produtos químicos que atrapalham a habilidade dos mosquitos de cheirar os humanos e que podem servir para criar repelentes mais eficientes. Os estudos foram publicados no periódico especializado Nature. Um especialista britânico comentou que as descobertas podem significar um "grande passo adiante", caso os químicos sejam seguros à saúde humana e baratos. Mosquitos fêmeas usam o gás carbônico exalado pelos humanos para escolher suas próximas vítimas. Os insetos são capazes de detectar mudanças rápidas na concentração do gás e identificar suas origens. Essa informação já havia servido para a criação de armadilhas para os mosquitos, usando gelo seco ou cilindros de gás que emitem CO2. No entanto, por serem caras, raramente são usadas em países em desenvolvimento. Os pesquisadores vinham procurando alternativas químicas que pudessem atrapalhar ou confundir o senso de percepção dos mosquitos com relação ao CO2. Doenças Agora, cientistas da Universidade da Califórnia em Riverside testaram químicos com cheiros em três espécies de mosquitos: Anopheles gambiae, que transmite a malária; Culex quinquefasciatus, que causa elefantíase e o vírus do oeste do Nilo (o qual desencadeia problemas cerebrais); e o Aedes aegypti, que dissemina a dengue e a febre amarela. Juntos, esses insetos infectam em média 500 milhões de pessoas por ano no mundo, causando milhões de mortes. Os pesquisadores identificaram três grupos químicos que atrapalham os mosquitos na hora de identificar o gás carbônico. Um dos químicos imita o CO2 e pode ser usado como isca para armadilhas; o segundo impede que o mosquito identifique o CO2; e o terceiro grupo "engana" o mosquito, fazendo com que seu cérebro pense que está cercado por grandes quantidades do gás - assim, o inseto não sabe qual direção seguir. O professor Anandasankar Ray, da Universidade da Califórnia, disse que "os químicos oferecem uma poderosa vantagem como ferramentas potenciais para reduzir o contato dos mosquitos com os humanos e podem levar ao desenvolvimento de novas gerações de repelentes". "A identificação dessas moléculas de odor - que podem funcionar até mesmo em baixas concentrações e são, portanto, econômicas - pode ser muito eficiente em comprometer a habilidade dos mosquitos em identificar humanos, ajudando, assim, a controlar a disseminação de doenças transmitidas (pelos insetos)." Outros atrativos O CO2 não é a única forma pela qual mosquitos encontram suas vítimas - o cheiro do suor e da pele dos humanos também pode ser usado para esse propósito. O médico James Logan, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, explica que "ainda que o estudo (californiano) seja animador, os autores ainda têm de mostrar que os químicos são capazes de evitar que os seres humanos sejam mordidos (pelos mosquitos)". "Ao mesmo tempo em que o CO2 é um importante atrativo aos mosquitos, sabemos que os insetos respondem de maneira distinta a uma armadilha de gás carbônico e a um ser humano de verdade, que libera uma complexa mistura de químicos atraentes, calor, dicas visuais e umidade. A questão é: será que odores (como os descobertos) podem de fato proteger as pessoas?" Os pesquisadores dizem que o próximo passo será desenvolver químicos que não causem riscos à saúde humana. O médico Nikolai Windbichler, do Imperial College, em Londres, diz que ainda há trabalho a fazer para garantir que os químicos sejam seguros e possíveis de serem produzidos a um custo reduzido. "Esses componentes têm propriedades novas e desejáveis, porque podem confundir os mosquitos mesmo quando a substância não está mais presente ou quando o mosquito já deixou a área onde ela foi aplicada", conta o médico. "Isso pode ser um grande passo adiante e pode proteger grandes grupos populacionais em áreas vastas, algo que não é viável atualmente com os repelentes existentes." Mark Stopfer, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, disse que o estudo californiano é "promissor". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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