Radicais brancos descartam vingança na África do Sul

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Por JOHN MKHIZE
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O Movimento de Resistência Africâner (AWB, na sigla em idioma africâner) prometeu nesta segunda-feira não promover uma vingança violenta pelo assassinato do seu fundador, Eugene Terre'Blanche, atenuando os temores de que a África do Sul poderia mergulhar numa onda de turbulência racial. O líder branco de ultradireita, que na década de 1990 se destacou por seu empenho em manter o regime racista do apartheid, foi morto no sábado, enquanto dormia, a golpes de canos e facões, aparentemente por dois empregados de sua fazenda descontentes com questões salariais. Líderes do AWB, grupo marginalizado nos últimos anos, inicialmente prometeram vingar sua morte, mas um porta-voz do partido negou que haja planos para qualquer ação violenta. "O AWB não vai se envolver em qualquer forma de retaliação violenta para vingar a morte do senhor Terre'Blanche", disse o general Pieter Steyn. "Apelamos às pessoas para que mantenham a calma. Quem quer que se envolva em qualquer forma de violência não está fazendo isso como (membro do) AWB." Outros líderes sul-africanos, inclusive o presidente Jacob Zuma, também pediram calma ao país, que tem um grave problema de criminalidade e estará cada vez mais em evidência nos próximos meses por causa da Copa do Mundo de futebol, em junho e julho. Mesmo que o crime não tenha sido político, ele expõe a divisão racial no país, 16 anos após o regime de supremacia branca. Adversários do partido governista CNA acusam o líder da sua ala juvenil, Julius Malema, de ter acirrado a tensão racial com a sua retórica inflamada, particularmente ao entoar um hino da época do apartheid --atualmente proibido pela Justiça-- que contém a expressão "mate o boer" (palavra que significa "fazendeiro" e alude aos descendentes dos colonizadores brancos). No fim de semana, Malema esteve no Zimbábue, onde elogiou o presidente Robert Mugabe por ter confiscado terras de fazendeiros brancos para entregá-las a negros, uma política que críticos dizem ter contribuído com a ruína daquele país. Malema disse a jornalistas no Zimbábue que a canção não influiu no assassinato de Terre'Blanche. "Não temos nada a ver com a morte dele. As pessoas estão simplesmente mobilizando a direita contra nós e tentando nos intimidar", afirmou ele após encontro com Mugabe, defendendo que os assassinos sejam presos. O CNA também negou que a música tenha influído na morte de Terre'Blanche. "Qualquer alegação de que os negros pretendam fazer mal a outros grupos raciais (...) é infundada e isenta de qualquer verdade", disse o partido em nota. (Reportagem adicional de MacDonald Dzirutwe, em Harare; e de David Dolan, em Johanesburgo)

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