Radicais brancos velam líder assassinado na África do Sul

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Por JOHN MKHIZE
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Simpatizantes de Eugene Terre'blanche participaram nesta segunda-feira do velório do líder radical branco, realizado na fazenda dele, cujo assassinato gera temores de uma onda de violência racial na África do Sul. "As emoções estão muito elevadas no momento", disse André Nienaber, parente de Terre'blanche, morto no sábado com golpes de facão, supostamente por dois empregados negros que se queixavam da falta de pagamentos. O Movimento de Resistência Africâner (AWB, na sigla em língua africâner), dirigido por Terre'blanche, que estava marginalizado desde seu fracasso na luta para manter o regime racista do apartheid, na década de 1990, descartou qualquer retaliação violenta pela morte de seu líder, que os supremacistas brancos atribuíram à retórica inflamada do líder da juventude do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido no poder. "O AWB não vai se envolver em nenhuma forma de retaliação violenta para vingar a morte do senhor Terre'Blanche", disse Pieter Steyn, general da AWB, a repórteres, pedindo que se mantenha a calma. Lideranças sul-africanas pediram calma no país, que dentro de pouco mais de dois meses será a sede da Copa do Mundo, e que enfrenta graves problemas de criminalidade. Independentemente da motivação do crime, ele expõe a polarização racial que persiste na África do Sul 16 anos após o fim do apartheid. Adversários do CNA acusam o líder da sua ala juvenil, Julius Malema, de ter inflamado seus seguidores com sua retórica, e particularmente por cantar um hino da época do apartheid, com a frase "mate o boer" - palavra que significa "fazendeiro" e designa os descendentes dos colonizadores brancos. A Justiça proibiu essa canção. De toda a África do Sul, simpatizantes de Terre'blanche chegam a Ventersdorp, localidade rural um pouco mais de 100 quilômetros a oeste de Johanesburgo. O portão da fazenda dele está cheio de coroas de flores, e há também um ursinho branco de pelúcia. Evidentemente irados, muitos dos participantes do velório não quiseram falar à imprensa. A polícia assiste a tudo de dentro dos seus carros, para evitar problemas. Outros momentos tensos devem ocorrer durante a semana - na terça-feira, quando os dois acusados da morte serão levados a um tribunal, e na sexta-feira, quando Terre'blanche será enterrado. O AWB - cuja bandeira lembra a suástica nazista - tem pouca reverberação entre os brancos sul-africanos, que compõem 10 por cento da população do país. Mas alguns ativistas de ultradireita chegaram a realizar ataques para tentar preservar o domínio da minoria branca, e grupos africâneres dizem que há grande tensão nas comunidades agrícolas dos brancos, por causa de uma série de ataques a fazendeiros. "Infelizmente, se não for visto que o governo faz algo muito sério e efetivo agora, as pessoas vão pegar a lei em suas próprias mãos", disse a uma TV local Dan Roodt, do Grupo de Ação Pró-Africâner. O presidente Jacob Zuma, do CNA, condenou o homicídio, manifestou solidariedade e pediu a todos os sul-africanos que convivam em harmonia e não deixem que ninguém se aproveite da situação para incitar o ódio racial.

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