Rádio ordena revisão de práticas após trote a enfermeira; polícia estuda inquérito

Processo contra radialistas, no entanto, é improvável, avalia correspondente da BBC.

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Por BBC Brasil
Atualização:

A rádio australiana 2DayFM, imersa no escândalo do trote que levou à morte de uma enfermeira que atendia Kate Middleton em Londres, ordenou neste domingo uma revisão de suas práticas. A posição chegou horas depois de a Scotland Yard anunciar que estuda abrir um inquérito em parceria com a polícia de Sydney. A diretoria da Southern Cross Austereo, empresa que controla a emisora, reuniu-se emergencialmente para discutir a carta recebida pela chefia do King Edward's 7º Hospital, onde a enfermeira indiana Jacintha Saldanha trabalhava. "Eu posso garantir que estamos tomando medidas imediatas e vamos revisar os processos de transmissão envolvidos", disse Max Moore-Wilton, chefe do grupo australiano, acrescentando que a rádio cooperará com as investigações. "O hospital King Edward's 7º cuida de pessoas doentes, e foi extremamente tolo por parte de seus apresentadores até mesmo considerar mentir para conseguir informações sobre um de nossos pacientes, quanto mais fazer a ligação", diz a carta enviada à estação. "Descobrir então que, não somente isso aconteceu como a ligação havia sido pré-gravada e a decisão de transmiti-la aprovada pela direção de sua estação, foi verdadeiramente espantoso", diz o texto. Inquérito Mais cedo, a Scotland Yard indicou que já está em contato com a polícia de Sydney e que estuda abrir um inquérito para averigurar as circunstâncias que levaram ao provável suicídio da enfermeira. Ela recebeu um trote na terça-feira de madrugada. Os radialistas Mel Greig e Michael Christian se fizeram passar pela rainha Elizabeth 2ª e o príncipe Charles, respectivamente, e obtiveram dados confidenciais sobre o estado de saúde da duquesa de Cambridge. Três dias depois, Saldanha, então com 46 anos, foi encontrada morta. Um porta-voz da polícia metropolitana de Londres disse que "oficiais já fizeram contato com as autoridades australianas". Já o vice-comissário de polícia de Sydney, Nick Kaldas, disse que "na prática, eles ainda não nos pediram para fazer nada, mas certamente já abrimos as linhas de comunicação e obviamente estamos felizes para ajudar de qualquer forma que pudermos". "Tudo o que eu posso dizer no momento é que foi sinalizado que a polícia metropolitana de Londres pode pedir para falar com as pessoas envolvidas no caso da rádio 2DayFM, mas ainda não nos pediram para organizar depoimentos". O correspondente da BBC em Sydney, Phil Mercer, diz que é pouco provável que os dois radialistas sejam processados na Austrália ou na Grã-Bretanha por não terem demonstrado "intenção de culpa". No entanto, eles podem ter violado uma lei estadual australiana que proíbe a transmissão de conversas particulares obtidas através de um "aparelho de escuta". 'Sangue nas mãos' Acusados por ouvintes furiosos de terem "sangue nas mãos", os DJs australianos no centro da polêmica foram tirados do ar em meio a uma forte reação negativa do público. A rádio 2Day FM também decidiu suspender até segunda-feira todos os comerciais, após algumas das principais empresas australianas, incluindo a gigante das telecomunicações Telstra e a cadeia de supermercados Coles terem cancelado suas propagandas na estação, em reação à polêmica. "Entendemos que os australianos estão claramente bravos e aborrecidos com o que parecem ser consequências trágicas do trote da 2DayFM em um hospital britânico", anunciou a Coles após a notícia da morte da enfermeira. As redes sociais vêm sendo inundadas com comentários sobre o caso, em sua maioria criticando a atitude dos DJs. Os dois apagaram suas contas no Twitter após receberem milhares de comentários negativos pela rede, incluindo supostas ameaças de morte. "Não mais tão engraçado, não é? Uma enfermeira britânica morreu em troca de um par de risos baratos. Que vergonha!", escreveu um ouvinte na página da rádio no Facebook. Tratamento psicológico Em declarações em uma entrevista coletiva, Rhys Holleran, presidente-executivo da Southern Cross Austereo, dona da rádio de Sydney, afirmou que ofereceu aconselhamento psicológico para os dois DJs. "Conversei com os dois apresentadores nesta manhã e posso dizer que eles estão completamente devastados. Essas pessoas não são máquinas, são seres humanos. Todos nós fomos afetados por isso", afirmou. A administração da rádio afirma que nenhuma lei foi quebrada, apesar de a estação poder ser processada pela transmissão de uma conversa pública gravada sob segredo. Os especialistas acreditam, porém, que um processo é pouco provável. A agência reguladora das comunicações deve avaliar agora se seus códigos de conduta foram violados. A rádio já havia recebido duas advertências da agência sobre pegadinhas anteriores. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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