Ratos são modelo para estudo de ansiedade

Cientistas criaram roedores nervosos para entender como transtorno se manifesta

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Por Clarissa Thomé
Atualização:

Cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) criaram duas novas linhagens de ratos para auxiliar no estudo do transtorno de ansiedade generalizada e da síndrome do pânico. Por dez anos, os pesquisadores fizeram o cruzamento entre roedores naturalmente mais e menos ansiosos. As características foram transmitidas por herança genética. A pesquisa já está na oitava geração de "ratinhos nervosos". "Nossa intenção é ter um bom modelo de ansiedade em humano, simular de maneira mais verdadeira como esses transtornos se expressam nas pessoas. Estudamos áreas neurais associadas ao distúrbio da ansiedade. Também queremos saber como essas estruturas participam do transtorno do pânico e como se comportam nos animais que têm aumento da ansiedade", disse J. Landeira Fernandez, do Núcleo de Neuropsicologia Clínica e Experimental da PUC. As linhagens desenvolvidas foram batizadas de Cariocas com Alto Congelamento (CAC) e Cariocas com Baixo Congelamento (CBC). O congelamento, ou freezing, é o termo que se dá à reação de pânico que toma conta do rato, paralisando-o. Os pesquisadores chegaram às espécies testando os que tinham maior ou menor reação a estímulos como choque. Os grupos foram divididos e cruzados entre si, para que se pudesse testar até que ponto as características emocionais eram transmitidas. Na terceira geração, os ratos já apresentaram ansiedade elevada ou reduzida, de acordo com os seus parentes. "Chegamos a esse resultado por tentativa e erro. Levamos dois anos para descobrir que, para se reproduzir, o macho tem de ser colocado na gaiola antes da fêmea, para que faça o ninho. Também aprimoramos o sistema de marcação na orelha e nos dedos", disse. Hoje já há cerca de 500 bichos com as características diferenciadas, que permitem estudos sobre a extinção da ansiedade, estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada (quando a pessoa desenvolve preocupações intensas, excessivas, infundadas e por longo período) e transtorno do pânico (medo constante de novo ataque do pânico - reação emocional intensa com sensação de morte iminente). O Brasil já teve uma linhagem de ratos ansiosos, mas que hoje está extinta. Os roedores criados no laboratório da PUC-RJ já foram enviados para pesquisadores da Universidade de Brasília, Universidade Federal Fluminense, Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e Universidade Federal de Santa Maria (RS).

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