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Reitoria da USP vira ponto turístico para estudantes

Uma barricada de pneus velhos está erguida em frente ao prédio da reitoria, ocupado desde maio e onde os estudantes, para entrar, precisam se identificar

Por redacao
Atualização:

A reitoria da Universidade de São Paulo (USP), invadida pelos alunos há 45 dias, virou, neste sábado, 16, uma espécie de atração turística para estudantes de instituições de ensino superior públicas de outros Estados. No dia marcado, pelos os alunos que ocupam o local, para um encontro nacional no câmpus do Butantã, em São Paulo, os integrantes das comissões de ocupação fizeram o papel de guias turísticos. Mostraram na reitoria o chão sujo de tinta, as paredes cheias de cartazes com palavras de ordem, os corredores ocupados por cadeiras e os gabinetes repletos de malas e colchonetes. "Este é um professor ´reaça´ (reacionário) de Física que tentou furar a greve", contava um aluno da USP para um colega de outra instituição, diante de uma charge pendurada na parede com fita adesiva. Na charge, aparece um professor que durante a ocupação enfrentou os alunos e tentou retirar carteiras da sala para continuar dando aula. Três estudantes do Rio ouviam a explicação. A invasão da reitoria da USP ocorreu em 3 de maio, para protestar contra decretos que o governador José Serra (PSDB) publicou no início do ano, logo após tomar posse. Entre outros pontos, ele criou a Secretaria de Ensino Superior e determinou que as três universidades estaduais - USP, Unicamp e Unesp - passassem a informar os gastos diariamente no sistema informatizado (Siafem), o que já acontecia com os demais órgãos estaduais. Logo após a publicação dos decretos, as universidades viram nisso um risco de perder sua autonomia. Mas, depois de negociações no início do ano, os reitores se convenceram de que a autonomia universitária não estava comprometida. Os estudantes, porém, não tiveram a mesma interpretação e ocuparam a reitoria. Após a ocupação, o governador publicou um decreto declaratório deixando expresso que os textos dos decretos anteriores não se aplicavam às universidades estaduais. Mesmo depois disso, os alunos permanecem no local, e pedem a extinção da Secretaria de Ensino Superior. Uma barricada de pneus velhos foi erguida em frente ao prédio da reitoria, onde os estudantes, para entrar, precisam se identificar. Jornalistas não podem entrar. O Estado teve acesso ao local. A ante-sala da reitora, Suely Vilela, estava ocupada por colchonetes. Três alunos dormiam e outros dois assistiam televisão. A porta que leva ao gabinete estava trancada e bloqueada por um sofá. "A comissão de comunicação decidiu que não fala com jornalista", explicava um grevista a um estudante de jornalismo de Goiânia (GO). Seguia dizendo que os ocupantes têm "comissão de tudo". "Temos comissão de segurança, de alimentação, de negociação, de limpeza... São todas abertas, todo mundo pode participar." "É tudo bem democrático, né", respondeu o estudante de jornalismo. Na manhã deste sábado, ônibus começaram a chegar à USP trazendo alunos de outras instituições para o encontro nacional em que expressariam apoio à invasão. Os estudantes tiveram de se inscrever para várias assembléias que ocorreriam ao longo do dia. Também pagaram R$ 5, que deram direito à refeição.

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