Relatório alerta sobre ameaça do CO2 à vida marinha

O carbono está deixando os oceanos mais ácidos, o que prejudica organismos marinhos que suportam a biodiversidade oceânica

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Por Agencia Estado
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As emissões de dióxido de carbono pela queima de combustíveis fósseis, em todo o mundo, estão alterando dramaticamente a química do oceano e ameaçando organismos marinhos, incluindo corais, que produzem estruturas esqueléticas que suportam a biodiversidade oceânica. Um relatório divulgado nesta quarta-feira resume os efeitos conhecidos do aumento do dióxido de carbono atmosférico nesses organismos, conhecidos como calcificadores marinhos, e recomenda pesquisas futuras para determinar a extensão dos impactos. O relatório alerta que os oceanos ao redor do mundo absorveram aproximadamente 118 bilhões de toneladas de carbono entre 1800 e 1994. Os oceanos são naturalmente alcalinos, e espera-se que continuem assim, mas a interação com o dióxido de carbono está aumentando a acidez dos mares. Esse aumento reduz a concentração de íons carbonato, um bloco de construção para o carbonato de cálcio, que muitos organismos marinhos utilizam para desenvolver seus esqueletos e criar estruturas de recifes de coral. "Isso está levando às mais dramáticas mudanças na química marinha em, pelo menos, 650 mil anos", disse Richard Feely, um dos autores e oceanógrafo no Laboratório do Meio Ambiente Marinho do Pacífico da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), em Seattle. Estudos experimentais mostram que a calcificação dos corais diminui consistentemente quando os oceanos se tornam mais ácidos. Isso significa que esses organismos vão crescer mais lentamente, ou seus esqueletos vão se tornar menos densos, um processo similar à osteoporose em humanos. Como resultado, as estruturas dos recifes são ameaçadas, pois os corais podem ficar incapazes de construir recifes tão rápido quanto a erosão os desgasta. "Essa ameaça está atingindo os recifes ao mesmo tempo em que eles estão sendo danificados pelo embranquecimento em massa, induzido pelo aquecimento das águas", disse Chris Langdon, que conduziu um desses estudos na Universidade de Miami e que é também um dos autores do relatório. O embranquecimento ocorre quando temperaturas mais altas levam o coral a perder as algas microscópicas coloridas que fornecem alimento aos pólipos do coral. Muitos organismos calcificadores - incluindo o plâncton marinho - são afetados pelas mudanças químicas. Alguns tipos de plâncton são uma fonte importante de alimento para salmões, carapau, arenques e bacalhau. Se os organismos calcificadores forem incapazes de sustentar suas populações, muitas outras espécies serão afetadas. "A diminuição da calcificação em algas e animais marinhos provavelmente causa um impacto nas cadeias alimentares marinhas e tem o potencial de alterar substancialmente a biodiversidade e a produtividade do oceano", disse Victoria Fabry, da Universidade Estadual da Califórnia, outra autora do relatório. Uma série de outros grandes ecossistemas que dependem dos calcificadores marinhos pode ser ameaçada pela acidificação do oceano. Esses incluem os recifes de coral de águas frias, que são extensas estruturas que fornecem hábitat para uma porção de espécies importantes de peixes, particularmente na costa do Alasca.

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