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Sabesp tenta saber para quem vai a água que trata

Por Felipe Machado
Atualização:

A cozinheira Andréia Dias calcula de cabeça o que é necessário preparar para o almoço no Lar Criança Feliz, pois sabe o quanto cada criança come. Precisa dosar com cuidado, porque essa ONG depende de doações para alimentar as 60 crianças carentes que atende em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo. As crianças avisam Andréia quando querem mais comida e água, dizendo: ''Tia, hoje eu estou com fome.'' Conhecer a demanda ajuda a planejar o estoque, para que ninguém passe necessidade. É assim no Lar Criança Feliz com a comida. E esse é o objetivo da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) com a água, ao monitorar eletronicamente seu sistema de abastecimento.Com 384 reservatórios para atender mais de 15 milhões de pessoas, gerenciar a produção de água potável para a região metropolitana exige mais que a experiência de uma pessoa. A oferta na natureza é sazonal e a demanda está atualmente próxima do limite da oferta. É aí que entra o Sistema de Suporte à Decisão desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas de Suporte a Decisões em Engenharia Ambiental e de Recursos Hídricos (LabSid) da Universidade de São Paulo (USP). É possível saber o nível e a qualidade da água armazenada em toda a rede por dados coletados a cada cinco minutos em centenas de pontos telemétricos. Dessa forma, os gestores dos Comitês das Bacias Hidrográficas têm acesso a relatórios que auxiliam nas negociações de transferência de água entre elas. O superintendente da Unidade de Negócio de Produção de Água da Metropolitana da Sabesp, Hélio Luiz Castro, afirma que essas informações dão mais transparência ao processo: ''Isso dá para provar que o acordo está sendo cumprido.''Transferir água entre as seis bacias que a fornecem para a região depende de decisão do conselho formado por representantes do Estado, dos municípios da bacia e de entidades da sociedade civil, eleitos a cada dois anos. O comitê do Alto do Tietê abrange 34 municípios da região metropolitana, incluindo Taboão da Serra. A necessidade de um acordo formal autorizando que a água vá de um sistema para outro é para garantir que esta não falte em nenhuma parte. O professor Arisvaldo Mello Júnior, do LabSid, relata que, por causa do aumento da demanda e da poluição, ''é preciso ir buscar água cada vez mais longe''.Mello Júnior conta com uma equipe de dez pesquisadores, entre doutorandos, engenheiros e estagiários. A idéia da terceira versão é fazer com que os técnicos da Sabesp acessem o sistema pela internet, reduzindo custos de operação. O mapa disponível atualmente, com pontos de medição marcados por pequenos ''x'' coloridos, além de rios e reservatórios, será substituído por fotos de satélite. A reformulação está prevista para começar em outubro deste ano, com um orçamento de cerca de R$ 2 milhões anuais.Foi a Sabesp que procurou o LabSid para criar a primeira versão do programa, que começou a ser utilizada em 1998. Para Castro, gerenciar um sistema como esse sem recursos de informática seria como operar ''um banco sem computadores''. Mello Júnior se sente orgulhoso de poder participar do projeto, pois acredita que este tipo de planejamento é essencial. ''O operador não pode pensar nisso só em situação crítica'', explica. Graças a esse trabalho, Andréia pode servir água à vontade para suas crianças em Taboão.FELIPE MACHADO DE SOUZA É ALUNO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA.

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