São Paulo fica distante de meta de redução de gases-estufa

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Por Marcelo Teixeira

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SÃO PAULO, 14 Nov (Reuters Point Carbon) - A maior cidade brasileira deve descumprir sua meta inicial de redução das emissões de gases do efeito estufa, após novos dados divulgados nesta quarta-feira mostrarem um aumento desse tipo de poluição em São Paulo no perído de 9 anos até 2011.

O novo inventário paulistano das emissões de gases que causam o aquecimento global indicam elas cresceram 4,4 por cento de 2003 a 2011, atingindo 16,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), principalmente devido à maior demanda energética.

Em 2009, o prefeito Gilberto Kassab sancionou uma lei climática que incluía uma ambiciosa meta de redução de 30 por cento nas emissões até 2012, em relação a 2003.

"É basicamente impossível agora cumprir essa meta", disse Fernando Beltrame, especialista em emissões da consultoria paulistana Eccaplan.

A situação de São Paulo é típica das grandes áreas urbanas em economias emergentes avançadas.

Nos últimos anos, o rápido crescimento econômico e as políticas sociais mais inclusivas tiraram milhões de pessoas da pobreza na América Latina, mas isso resultou num aumento das emissões.

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Beltrame disse que, embora as emissões paulistanas não tenham aumentado significativamente nesses nove anos, o governo municipal não tem políticas adequadas para a redução dos gases do efeito estufa.

"São Paulo precisa de um plano integrado de mobilidade, um sistema eficiente de manejo do lixo e incentivos para os biocombustíveis", afirmou.

Segundo dados do inventário, realizado pela prefeitura e consultorias especializadas, com financiamento do Banco Mundial, 61 por cento do total de CO2e veio do setor de transportes, e 15,6 por cento foram gerados pelo lixo.

MEDIDAS

A megalópole, uma das cinco maiores do mundo, já tomou algumas medidas para combater as emissões ao estabelecer, por exemplo, parcerias com o setor privado para capturar e direcionar o metano dos aterros sanitários para geração de energia.

A prefeitura recebe por esses projetos créditos de carbono da ONU, os quais são vendidos em leilões.

São Paulo integra o C-40, grupo de cidades que busca políticas de combate à mudança climática. Desde 2009, os veículos leves licenciados na cidade precisam passar por inspeções de poluentes. Mas a cada dia, a cidade ganha cerca de mil novos carros.

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Especialistas acreditam que a cidade precisará de programas mais agressivos para controlar as emissões se quiser interromper a tendência de alta.

Os dados municipais mostram que o consumo elétrico por domicílio saltou 33 por cento entre 2003 e 2009, já que as famílias passaram a usar mais eletrodomésticos. Nesse período, o volume per capita de emissões passou de 1,3 tonelada de CO2e/ano para 1,4 tonelada.

Isso ainda está bem aquém do volume registrado em cidades mais ricas, como Nova York, onde cada habitante emite cerca de 6 toneladas de CO2e por ano.

Os dados também mostram uma redução na quantidade de etanol usada na cidade nos últimos dois anos, em comparação à gasolina, o que piorou o perfil das emissões relacionadas à queima de combustíveis.

A conjunção de fatores como safras ruins de cana-de-açúcar nos últimos anos e aumentos dos custos de produção fizeram com que o etanol perdesse competitividade ante a gasolina, cujos preços tem sido mantidos estáveis por políticas do governo federal.

"A falta de incentivos para o uso de biocombustíveis significa que a enorme frota de carros flex em São Paulo passa a maior parte do ano rodando com gasolina", disse o analista ambiental independente Sérgio Abranches, comentando os dados do inventário.

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