Se quisermos fechar escolas, temos muito a fazer. Precisamos explicar às crianças por que a barraca está aberta cheia de gente sem máscara e comendo pastel. Se quisermos fechar escolas, precisamos dar uma razão para os botecos estarem com faixas amarelas, supondo distanciamento, mas servindo bebida para quem quiser.
Ou entender por que muitos e muitos escritórios ainda não mandaram seus funcionários para home office. Por que há igrejas com cultos e cantorias. Por que há papelarias com porta semiaberta deixando o cliente entrar. E pet shops cheios de cachorros tomando banho.
Se quisermos fechar escolas, precisamos explicar às crianças e adolescentes que ficarão em casa por que há tanta gente nas ruas.
Em Paris, símbolo da gastronomia mundial, restaurantes e aqueles milhares de lindos cafés estão fechados desde o começo do ano. E as escolas abertas. Lá ninguém precisa explicar o que é essencial para as crianças.
Outros países - onde se diz que “a educação funciona” - também tentaram até o fim deixá-las funcionando. Até o fim. E o fim não é isso que vemos em São Paulo hoje. O fim não tem ninguém na rua, o fim é lockdown.
Depois de algumas semanas, as escolas são o começo. O Reino Unido nesta semana reabriu a educação. Comércio, salões de beleza, academias e bares ainda vão esperar um mês ou mais. Fácil de entender.
Mas aqui no Brasil, o movimento é incompreensível. Mesmo longe do lockdown, a Justiça autoriza escolas a não chamar mais os professores para trabalhar, pais se mobilizam para que escolas particulares fechem. Outros já desistiram de mandar os filhos, que veem da janela a cidade bombando.
E o governo de São Paulo, que tanto tinha se espelhado nos países desenvolvidos, já discute nesta semana o fechamento da educação.
Por que não mobilizamos tanta força e tanta consciência para fechar o que não é essencial? São poucos os que apontam o dedo para as igrejas, para o comércio que finge estar em fase vermelha. Que defendem que precisamos ficar em casa por algumas semanas para tentarmos voltar ao menos a uma “fase normal” de pandemia. E com auxílio emergencial, que já deveria estar aprovado desde 1º de janeiro. Mesmo que, no fim, a educação também tenha que parar.
Mas, não. Escolhemos atacar antes a escola. Queremos prejudicar primeiro as crianças e depois o resto. Isso explica bem o país.