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Seca que aflige o semiárido nordestino já provoca prejuízos na Zona da Mata

Segundo produtores de cana-de-açúcar, se a chuva voltasse hoje, a produção já seria 20% menor; açudes estão em colapso e preço da comida subiu

Por Angela Lacerda e RECIFE
Atualização:

A seca que destrói lavouras e reduz o rebanho dos agricultores no semiárido, considerada a pior dos últimos 30 anos, já faz estragos também na região da Zona da Mata, faixa paralela ao litoral nordestino, onde se concentra o cultivo da cana-de-açúcar."Mesmo que o período chuvoso na área tenha início hoje, teremos uma redução de 20% na produção de cana do Nordeste", afirma o presidente da União Nordestina de Produtores de Cana, Alexandre Andrade. A produção da região é de 62 milhões de toneladas. No semiárido não há mais esperança de chuva neste ano, lamenta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape), Doriel Barros, que, em meio às dificuldades de quem vive no agreste e sertão, comemora a conquista de uma reivindicação feita ao governo estadual: a de que os conselhos municipais, que envolvem a sociedade civil, passem a acompanhar e monitorar a distribuição de carros pipas com as populações sedentas. "Assim a gente assegura que a água vá para quem precisa, sem influência político-eleitoreira." Tristeza. O açude da Barra do Juá, na área rural do município sertanejo de Floresta, a 439 quilômetros do Recife, entrou em colapso e toda a comunidade abastecida por ele vivencia "a pior seca da era", nas palavras do coordenador dos usuários do açude, Ricardo Souza.Embora o preço do alimento tenha duplicado - o quilo do feijão está sendo vendido a R$ 8 -, as pessoas não estão passando fome. A situação dos animais, contudo, é ruim, aponta Souza. Pedro Olegário, dono de um pequeno sitio em Sertânia, a 316 quilômetros da capital, já perdeu mais de 20 bois e a tendência é esse número aumentar. "Ainda tenho um pouco de macambira e mandacaru, que resistem bem à seca, mas vai acabar logo e depois disso não vou ter mais nada para dar aos bichos".Por enquanto, não há sinal de êxodo dos habitantes do semiárido pernambucano em busca de locais menos degradados pela estiagem e com maior oferta de alimento e trabalho. "As pessoas têm esperança nas ações do governo", justifica o dirigente sindical Doriel Barros. Atualmente, 749 municípios do semiárido estão em estado de emergência, reconhecido pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. A Bahia apresenta uma das situações mais graves, com 214 municípios - dos seus 417 - em estado de emergência. A Paraíba tem 172, o Rio Grande do Norte, 140 e o Piauí 112. Pernambuco tem 62 e Alagoas 28. Sergipe e Ceará têm 20 cada um. O Maranhão tem um.

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