Sindicatos: Vale busca suspender mais contratos de trabalho

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Por Redação
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Dirigentes de sindicatos que congregam uma parte dos trabalhadores da Vale no país disseram nesta quinta-feira que a mineradora está fazendo pressão para que funcionários aceitem a suspensão temporária dos contratos de trabalho para evitar novas demissões. "Eles sinalizaram que querem adotar medidas para evitar um impacto bem maior, que seriam mais demissões", afirmou Eduardo Pinto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Ferroviárias dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins. "Segundo eles (Vale), a crise não dá sinais de retrocesso e queriam discutir conosco a possibilidade de construir o mesmo acordo que fizeram na região Sudeste, com o Metabase", disse, referindo-se ao sindicato que representa os empregados da Vale na região Sudeste. A Vale já interrompeu temporariamente o contrato de trabalho de 1.200 trabalhadores, que foram colocados em treinamento mas continuarão a receber salário integral e benefícios. A medida é "raríssima" no Brasil, segundo a presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, Fabíola Marques, mas não muito ruim para os trabalhadores, afirmou. "Existe uma legislação que autoriza colocar empregados em treinamento quando há redução de produção sem precisar dar férias, porque nas férias o custo é mais alto", explicou. Ela destacou que o temor dos trabalhadores pode se dever ao fato do instrumento ser pouco conhecido no Brasil e por não garantir estabilidade no emprego quando acabar o período de 2 a 5 meses estipulados por lei. Segundo Pinto, a proposta da Vale é de que os ferroviários que trabalham na Estrada de Ferro Carajás, que liga a principal mina da Vale ao porto em São Luiz do Maranhão, entrem em recesso de 23 de dezembro a 4 de janeiro. Empregados com férias vencidas e a vencer continuariam de férias em janeiro e em fevereiro e se a crise continuasse seriam realocados por meio de treinamento. "Esse pessoal que estivesse em férias, se permanecesse a situação de crise, faria treinamento (com contrato de trabalho suspenso) a partir de março e abril para realocação, como está sendo feito em Minas", explicou. A maior produtora de minério de ferro do mundo anunciou na quarta-feira que demitiu 1.300 empregados para ajustar o quadro à retração do mercado, depois que se viu obrigada a cortar 10 por cento da sua produção por conta da queda de demanda. Nesta quinta-feira, a mineradora informou que fechou por tempo indeterminado uma mina de níquel no Canadá, metal cujo preço despencou no mercado e no qual a Vale se tornou uma das maiores produtoras após comprar a canadense Inco em 2006. Em Minas Gerais, onde a companhia está presente em quase 200 municípios --que estão sofrendo com a demissões e férias coletivas de mais de 4 mil funcionários--, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Itabira, Paulo Soares de Souza, afirmou que a Vale tem mantido intensa negociação com a categoria. "Propuseram para gente a suspensão de todos os contratos de trabalho e ameaçaram demitir mais mil funcionários se o sindicato não aceitar", disse Souza. OUTRO LADO Procurada pela Reuters, a Vale explicou que uma das ações que está implementando para tentar não cortar os empregos é o treinamento para realocação de funcionários, que suspende temporariamente --de 2 a 5 meses-- o contrato de trabalho enquanto são treinados para exercer outras funções e depois retornar à empresa. Segundo a assessoria da Vale, isto está sendo feito com os 1,2 mil funcionários colocados em treinamento anunciados na quarta-feira. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, Paulo Camillo Penna, as empresas de mineração de maneira geral estão sendo obrigadas a se adequar à demanda mundial, e no caso das empresas brasileiras, o objetivo é manter o maior número de empregados possível. "No 'boom' da mineração, há 5, 6 anos, procurava um operador de locomotiva, de guindaste, um geólogo um engenheiro de mina e você não encontrava. Houve esforço e muito investimento para formar esse pessoal, por isso o esforço para tentar manter o maior número de empregos possível, para quando o crescimento for retomado", disse à Reuters por telefone nesta quinta-feira. Ele ressaltou que o governo já deu incentivos para os setores agrícolas e automotivos mas ainda não fez nada pela mineração. "Temos que conviver com a realidade. O bolo é menor agora e a concorrência vai piorar, infelizmente não estamos vendo agilidade do govenro em relação a isso", disse o executivo. Segundo Penna, o governo poderia ajudar o setor abrindo uma linha de crédito como fez com outros setores, ampliar o prazo para pagamento de tributos à União e ao Estado e reduzir o IOF, além da redução de carga tributária. (Reportagem de Denise Luna, no Rio, e Marcelo Portela, em Minas Gerais)

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