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Skype busca parcerias com operadoras de celulares no Brasil

Presidente da empresa prevê que serviços de voz deixarão de ser cobrados de maneira diferente dos serviços de dados

Por Renato Cruz
Atualização:

Josh Silverman, presidente mundial da Skype, empresa de telefonia via internet, sabe português. Ele visitou o País por cinco semanas em 1995. "No voo de ida, li um livro de frases em português, com a pronúncia e os principais verbos", disse o executivo, em inglês, numa entrevista via Skype. "Eu tentei viver com um orçamento bem pequeno e, quando você faz isso, não encontra muitas pessoas que falam inglês. O que é ótimo." Ele viajou de ônibus de São Paulo para o Rio e depois foi para Lençóis (BA).O Brasil está entre os cinco maiores mercados do Skype. Apesar de não ter presença local, a empresa busca parcerias com operadoras celulares brasileiras. O Skype acabou de fechar uma parceria com a ONG Comitê para Democratização da Informática (CDI), patrocinando o centro de inclusão digital "Mensageiros da Esperança", no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo. Além disso, o CDI oferecerá treinamento sobre o Skype em todas as suas unidades.Na semana passada, o Skype terminou seu processo de cisão, transformando-se numa empresa separada da eBay, site de leilões que continua com cerca de 30% da companhia. O restante foi vendido para fundos de investimento. A empresa tem mais de 520 milhões de clientes registrados, que podem fazer chamadas gratuitas de Skype para Skype. Segundo a consultoria Telegeography, o Skype já conquistou uma fatia de cerca de 8% do mercado de ligações internacionais. A seguir, os principais trechos da entrevista.Quais são as principais mudanças na empresa, com a cisão?A cisão nos traz foco. Temos um conselho de administração com bastante experiência para ajudar uma companhia do nosso tamanho a crescer. Muitos integrantes também têm experiência no mercado corporativo, porque existe uma grande demanda pelo Skype nas empresas, e eles estão nos ajudando nessa área.Quais são seus planos para o Brasil?O Brasil é um mercado muito importante para nós. É um de nossos cinco maiores mercados e tentamos falar mais com a comunidade brasileira. Também discutimos parcerias mais amplas no Brasil. Nós temos uma parceria com a Transit Telecom, que fornece os serviços pagos para o Skype no Brasil. Uma das coisas que estamos anunciando é uma parceria com o CDI. É uma grande maneira de reduzir a exclusão digital: oferecer acesso à internet e aos computadores para pessoas de baixa renda no Brasil, com treinamento que permita se comunicar pelo País e ao redor do mundo.Vocês planejam ter presença local aqui?Não temos planos imediatos de ter funcionários no Brasil. Estamos procurando novas parcerias no Brasil, nos mercados móveis e corporativo, para ampliar nossa presença.Como estão as conversas com as operadoras brasileiras?Estamos falando com operadoras em todo o mundo, e estamos muito animados com a oportunidade de oferecer valor para os clientes deles e para nossos clientes. Olhando para o Skype no iPhone, tivemos 1 milhão de downloads em dois dias. Dois meses depois, alcançamos uma presença correspondente a 10% de todos os iPhones do mundo. Isso mostra a extrema popularidade da demanda pelo Skype em aparelhos celulares.Existem operadoras que veem o Skype como uma forma de perder receita. Como vocês enfrentam isso?A visão das operadoras está mudando rapidamente. Elas perceberam que o Skype é uma aplicação extremamente popular. Consumidores de alto valor querem o Skype. Em todo mundo, as operadoras gastam centenas de dólares para roubar um cliente de seus competidores. A oportunidade de conquistar usuários do Skype traz muito valor para elas. As operadoras economizam centenas de dólares na aquisição do cliente, e ganham clientes de valor que mudam menos de operadoras porque estão felizes com o Skype. Elas só perdem o faturamento de longa distância. Para a maioria das operadoras globais, a longa distância internacional é uma parte muito pequena do faturamento. Não tem nem o que pensar.O senhor já tem parcerias como essa?Temos uma parceria com a operadora 3, que pertence à Hutchinson Whampoa. No Reino Unido, eles se posicionam como a empresa que oferece Skype gratuito e ilimitado. Há dois anos, eles começaram a oferecer o 3 Skypephone, que é construído todo ao redor do Skype. Tem um botão de Skype no meio do aparelho. Quando o usuário aperta o botão, todos os contatos do Skype aparecem e ele pode chamar ou mandar uma mensagem de texto para qualquer um em sua lista, completamente de graça. Eles ganharam muitos clientes por causa do Skypephone e esses clientes gastam muito dinheiro com a 3. Quem tem Skype faz mais chamadas de GSM pela rede da 3 e manda mais mensagens. A 3 tem uma receita 15% maior com clientes que usam o Skype do que com os que não usam. Como o senhor explica o comportamento dos clientes da 3?Os usuários da Skype são comunicadores. Eles gostam de falar e nem todos os amigos deles estão no Skype. Existem alguns que em algumas horas estão no Skype e em outras não. Quando não estão, é preciso telefonar ou mandar mensagens.É esse tipo de acordo que vocês buscam no Brasil?Somos muito abertos sobre o modelo de acordo, mas achamos que o modelo da 3 é um sucesso.Como o senhor planeja aumentar o faturamento da empresa, que ainda é modesto comparado a base de usuários?Tudo é relativo. O Skype anunciou um faturamento de US$ 185 milhões no trimestre passado. Isso faz com que o Skype seja uma das empresas com crescimento mais rápido de receita na história do mercado de tecnologia.E qual é a estratégia de crescimento?Estamos trabalhando em algumas áreas. A primeira é que não temos feito um trabalho tão bom de dizer para os nossos usuários quais são os serviços pagos que temos. Por exemplo, nossos serviços de assinatura, em que é possível comprar ligações ilimitadas nos Estados Unidos por US$ 3 mensais ou ligar para toda a Europa por US$ 9 mensais. As assinaturas têm somente um ano. A segunda coisa são novos produtos pagos. Faturar US$ 1 bilhão em dois anos é uma meta alcançável.Qual é o futuro para operadoras tradicionais de longa distância?Para nós, voz é somente dados e, com o tempo, será transportada pela internet tradicional. Fazer uma chamada, enviar uma mensagem de texto, navegar numa página da web ou baixar um filme, tudo isso é comunicação de dados. A ideia de que se pode cobrar por voz de uma maneira diferente de outras formas de dados estará com a gente por algum tempo, porque essas coisas não mudam de um dia para o outro, mas, no final, essa diferença vai acabar. As operadoras continuarão oferecendo acessos de dados para pessoas e para empresas, sejam eles fixos ou móveis. Estamos no mercado de oferecer software e aplicações. Existe muita sinergia entre essas coisas, certo? Ninguém acorda de manhã e diz: eu quero 3G. As pessoas acordam de manhã e dizem: quero Facebook no meu celular, eu quero o Skype no meu celular.Como está seu português hoje?Eu falo só um pouco, e eu posso entender (diz em português). Meu espanhol é melhor. Eu consigo me fazer entender, mas meu português é muito rústico. Temos alguns brasileiros que trabalham na Skype. A pessoa que comanda nossa equipe de design, responsável pelo belo design que você no Skype, se chama Henrique Penha, e ele é brasileiro. Às vezes, eu o torturo com meu português.

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