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Só 41% dos formandos de cursos de saúde da Unip em SP fazem Enade

Dos 855 alunos do Estado de São Paulo do último ano dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição e Odontologia em 2010, 502 não prestaram o Enade; Unip alega que muitos alunos se formam em julho, antes da realização do exame

Por Carlos Lordelo
Atualização:

Pelo menos 500 alunos da Universidade Paulista (Unip) que se formaram em 2010 em cursos da saúde deixaram de prestar o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), prova obrigatória que compõe o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Com base numa denúncia formal de que a Unip seleciona só os melhores alunos para fazer o Enade, e usa os bons resultados numa agressiva campanha de marketing, o Ministério da Educação deu dez dias para a universidade se explicar.Levantamento feito com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) aponta que só 353 (41,2%) dos 855 formandos de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição e Odontologia de unidades da Unip no Estado de São Paulo participaram do Enade em 2010. A Unip atribui a diferença entre formandos e os inscritos no Enade ao fato de que um contingente expressivo de estudantes conclui o curso no meio do ano. "Como o exame sempre é aplicado no segundo semestre, esses estudantes não participam do Enade", explica a vice-reitora da Unip, Marília Ancona Lopez.Especialistas em ensino e dirigentes de universidades ouvidos pelo Estadão.edu receberam com reservas as alegações da Unip. Eles chamaram a atenção para o fato de que a grande maioria dos universitários brasileiros se forma no fim do ano. "A proporção no mercado é de 30% formados no primeiro semestre e de 70% formados no fim do ano", disse um reitor que pediu para não ser identificado. "Pelas alegações da Unip, é como se 59% dos alunos deles se formassem no meio do ano, ou seja, praticamente o inverso do mercado."Pela lei do Sinaes, universidades que não inscrevem alunos habilitados ao Enade podem ser proibidas temporariamente de abrir processos seletivos para os cursos avaliados em cada edição da prova.Segundo denúncia enviada ao MEC na quinta-feira, a Unip "esconde" alunos com notas mais baixas, para que não façam o exame. Estudantes de desempenho abaixo da média ficariam com notas em aberto na época da inscrição para o Enade. Desse modo, não completam 80% da carga horária e só os melhores da classe ficam aptos a prestar o exame.Após o fim do período de inscrição para o Enade, os alunos de médio ou baixo desempenho recebem as notas que faltavam, diz a denúncia. No final, quem não prestou o exame (a maioria da turma) se forma com os colegas que participaram da prova. Três professores e um ex-funcionário da Unip ouvidos pelo Estadão.edu confirmaram a prática.Enquanto as notas da Unip no Enade tiveram melhora exponencial no ciclo 2007-2010, a taxa de participação de seus alunos na avaliação caiu, contrariando uma tendência nacional. No curso de Farmácia em Bauru, por exemplo, só 9 dos 44 dos formandos fizeram o exame em 2010. A nota deles foi 4 (boa), e a dos 18 concluintes em 2007 havia sido 2 (ruim).Proporcionalmente, mais alunos de Enfermagem em Santos resolveram o exame em 2010 do que em Sorocaba (6 dos 15 formandos), e tiveram o mesmo salto na pontuação. Como nos outros casos, o número de santistas no Enade havia sido maior há cinco anos.Na capital, é possível comparar o desempenho dos alunos de Odontologia. Dos 40 formandos em 2010, 14 passaram pela avaliação e tiraram nota 5. Em 2007, os 23 concluintes tiraram 4.Nas outras cidades pesquisados pela reportagem, o curso de Farmácia da Unip havia tido nota 2 há cinco anos. Em 2010, os alunos de Assis e Campinas receberam pontuação 5, e os de Bauru, Ribeirão Preto e Sorocaba, nota 4. Somando o número de concluintes, porém, a participação caiu de 124 para 63 estudantes.Situação semelhante ocorreu em Nutrição. A quantidade de formandos que prestou o Enade passou de 104 (em 2007) para 58 (em 2010), e as notas subiram de 2 para 4 ( Campinas e Sorocaba) ou para 5 (Assis e Ribeirão Preto). / COLABORARAM ALEXANDRE GONÇALVES, CEDÊ SILVA e SERGIO POMPEU

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