
11 de janeiro de 2013 | 02h10
As histórias de Serraria são as mesmas há anos, mas as risadas não. Havia o louco da cidade, Tic-Tac. Achava que era um relógio. Pendulava pelas ruas e respondia um horário desatinado a quem lhe perguntasse as horas. Um gaiato certa vez quis contrariar e o corrigiu, dizendo a hora certa. Tic-Tac se afobou: "Danou-se que estou é atrasado!", e apressou o passo quase correndo.
Na escola, o diretor decidiu impressionar o inspetor da capital. Ensaiou com a turma leituras de antigos textos e poemas. Fez ler, reler, recitar, decorar. O inspetor finalmente chegou de João Pessoa e foi levado às pressas para a sala de aula. Um aluno levantou-se e leu em voz alta: "Xoronicas de Dom Jão Ví", disse ao ler o título das 'Chrônicas de Dom João sexto'.
A segunda guerra baixava em Serraria pelo único rádio, guardado na prefeitura. Uma noite, quando a tensão estremecia a Alemanha, uma tempestade tropical desabou e trancou todos em casa. Ninguém foi à prefeitura apanhar as últimas. No dia seguinte, a cidade se reuniu em torno do vigia Zé Mino para ouvir o relato. Ele fez clima: "Ah, ontem a coisa pegou fogo." Conta, Zé Mino! "Ontem mas foi que foi danado." Conta! "Olha, parece que três generais não sei de onde foram não sei pra onde fazer não sei o quê. Haja coração."
Enquanto isso, o prefeito ditava à secretária uma carta para o ilustríssimo senhor prefeito do município de Sousa. A secretária interrompe: "Sousa é com Z ou com S?" "Minha filha, você é parada, não é?", irritou-se o prefeito. "Só pode ser com S! Se fosse com Z era Zousa."
Vivia também por lá o marido de D. Eulália. Enorme senhora, que trincava penicos de louça com seu peso. 'Eulália-quebra-bacio'; era seu apelido. O marido foi comprar outro na cidade vizinha, por discrição. O vendedor trouxe um dizendo ser o mais forte e resistente.
O marido examinou a peça sem o menor ânimo: "Isso aqui Eulália lasca
num peido."
A mesa aterrissa em Olinda outra vez. Serraria volta para a prateleira, onde acumula anarquia até o ano que vem.
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