SP caminha para a auto-suficiência em córneas

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Por Mário Sérgio Lima
Atualização:

Recentes estudos apontaram a queda progressiva registrada nos últimos três anos em doações de órgãos e tecidos no Brasil, mas o trabalho de captação tem sido desenvolvido com sucesso relativo em alguns Estados. Uma prova disso é São Paulo, onde o transplante de córneas caminha para a auto-suficiência. De acordo com dados da Central de Transplantes do Estado, existem, hoje, exatas 2.255 pessoas na lista de espera pela córnea no Estado, sendo que neste ano, até início de outubro, já foram realizados 3.714 transplantes do tecido. Na última quinta-feira foi reaberto o banco de olhos do Tatuapé, um dos dois bancos de córneas da região metropolitana da capital paulista. O banco de olhos de Tatuapé trabalhava sob a coordenação de equipes de oftalmologia de Sorocaba, referência nacional no transplante de córneas. O lugar havia sido fechado este ano após denúncias do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) ao Ministério Público sobre coleta indiscriminada do tecido no banco de olhos de Sorocaba, o maior do País. Com isso, houve uma redução do ritmo de crescimento dos transplantes no Estado, que em mesmo período (janeiro a outubro) do ano passado havia registrado 4.175 intervenções do tipo. "A denúncia atrapalhou, até porque muita gente depois passou a recusar autorização para a coleta de córneas", conta o médico Elcio Sato, coordenador do departamento de transplantes de tecidos da sociedade médica Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Segundo o responsável pela Central de Transplantes de São Paulo, Luiz Augusto Pereira, pouco antes do fechamento, São Paulo chegava na marca de apenas 120 pessoas na lista de espera para o transplante de córneas. "Esperamos atender às mais de 2.200 pessoas da lista de espera em até quatro meses", conta. Se nenhum outro percalço ocorrer, a auto-suficiência completa seria possível em no máximo um ano. Captação ativa A busca ativa pela córnea em Sorocaba, tanto na conscientização das famílias quanto nas técnicas para obter o tecido, fizeram do banco de olhos local uma referência. Razão pela qual, em todo o Estado de São Paulo, foi adotada a mesma metodologia, com bons resultados. O índice de descartes de córnea em São Paulo, embora aparentemente alto (cerca de 50% do que é coletado não é utilizado, por diversos motivos, segundo dados da ABTO), é equivalente aos obtidos nos Estados Unidos, vanguarda mundial na busca por córneas. O país também é paradigma para São Paulo em relação ao seu banco de olhos. "Quando atingirmos a auto-suficiência, o caminho natural é o envio da córnea para outros Estados mais necessitados", explica Pereira. São Paulo conta com sete dos 34 bancos de olhos do País, sendo que até o fim do ano deve ser cadastrado mais um banco, o de Campinas. Mesmo não sendo a unidade da Federação com o melhor índice de captação - honra do Distrito Federal - é o Estado onde mais se realizam transplantes de córnea no País: quase 50% dos procedimentos do tipo são realizados em São Paulo. Isso também faz com que pessoas de outros Estados se inscrevam na lista de transplante de córnea de São Paulo. "Cerca de 10% dos pacientes na nossa lista de espera são de outros Estados", atesta Luiz Pereira. Não é de se espantar. Em São Paulo, a espera média por uma córnea é de 5,2 meses, tempo que já chegou a ser de 3 a 4 anos. Exemplo A captação de córneas também vem encontrando bom exemplo no Amazonas. Apostando na captação ativa, com equipes que conversam com familiares inclusive no Instituto Médico Legal (IML), o Estado conseguiu nesse ano triplicar a sua captação do tecido. Outros Estados também vêm evoluindo, embora ainda abaixo do necessário. Córneas correspondem ao segundo órgão ou tecido com maior lista de espera no País, atrás apenas dos rins: até junho deste ano, 26.793 pessoas esperavam por uma córnea. Apesar de contar com o peso de ter a maior lista de esperas do País, São Paulo ainda é considerado um dos Estados com o melhor trabalho de captação e de transplantes do País. Com um porcentual de quase 10 doadores por milhão (próximo do dobro do índice nacional de 5,4 por milhão), São Paulo é responsável por mais de 40% das operações realizadas no Brasil. "Além de São Paulo, também é notável o trabalho desenvolvido em Santa Catarina", aponta Abrahão Salomão Filho, coordenador do o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável pela política de doação e transplante no País. De fato, o Estado no Sul do País possui a melhor média de doadores do Brasil: 12,59 por milhão. Campanha negativa A divulgação de notícias negativas na imprensa é apontada por especialistas e por membros das comissões de órgãos como responsável por algumas quedas nas doações e na confiança da população. Isso ficou mais claro no caso das córneas em São Paulo. Depois de surgir a informação de que as córneas coletadas em Sorocaba, por haver uma captação muito além da necessidade da região, seriam jogadas fora, muitas pessoas passaram a permitir doação de todos os órgãos, exceto as córneas. "Freqüentemente e-mails com essa denúncia são veiculados. É uma mentira, não há desperdício de córnea", afirma Luiz Pereira.

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