Suíça prospera em mercado aquecido do ouro

Refinarias do país processam dois terços do ouro mundial; discute-se criação de uma certificação para a commodity.

PUBLICIDADE

Por Imogen Foulkes
Atualização:

As colinas do sul da Suíça concentram mais do que vinho e tranquilidade: quatro das maiores refinarias de ouro do mundo estão no país, três delas na região de Ticino. Apesar de o país não possuir minas de ouro, estima-se que dois terços da produção global do mineral seja refinada na Suíça. O ouro vem principalmente da América do Sul e África. "Tem a ver com a história", explica o consultor financeiro Roberto Grassi. "Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à grande quantidade de ouro que estava estocada na Suíça, os bancos decidiram estabelecer suas próprias refinarias, produzindo as barras." Assim como nos bancos, todo o processo é cercado de sigilo e muita segurança. Os funcionários da refinaria não podem ser identificados e nem mesmo falam quantas barras são produzidas por dia. Mas os dados mais recentes, de 2011, indicam que mais de 2.600 toneladas de ouro cru foram importadas para a Suíça, a um valor de US$ 103 bilhões (cerca de R$ 214 bilhões). Discrição De fora, a refinaria Pamp Gold se parece com qualquer outra fábrica, e a entrada não chama atenção a não ser por um nível maior de segurança. Dentro do local, em um dos salões, minério derretido é derramado em moldes para fazer barras de ouro de 12,5 quilos, entre outros tamanhos. Nesta quarta-feira, o grama do ouro estava cotado a R$ 109,50 na BM&F Bovespa e US$1.666/onça troy (31,103 gramas) em Nova York (quase R$ 3.493). Sendo assim, dependendo do peso da barra, seu valor pode chegar a US$ 680 mil (cerca de R$ 1,4 milhão). Isso demonstra que o mercado do ouro está aquecido, apesar de todo o clima de crise econômica global ou até mesmo por causa dele. "Desde a crise financeira de 2008, o ouro virou tendência predominante", afirmou Mehdi Barkhordar, diretor-administrativo da Pamp Gold. "Houve uma crise de confiança. As pessoas não tinham certeza de que o sistema bancário que usavam ficaria intacto, ou mesmo que o sistema financeiro do país ficaria intacto... Então (houve) a grande demanda por barras de ouro e moedas de ouro. Eu descreveria como um tipo de seguro", acrescentou. Para Roberto Grassi, o ouro é a commodity para tempos incertos. "O ouro é o tipo de investimento que você compra e deixa de lado. Fica lá para um motivo particular: crise, tempos de guerra ou durante aqueles tempos em que é absolutamente valioso, não importa o lugar do mundo", afirmou. Para o consultor, apesar de o preço do ouro ter subido muito em 2012, a commodity não deve ser vista como especulação, mas como um investimento seguro. Certificação Com o aumento de seu valor e popularidade, surgem questionamentos sobre como o ouro é extraído e as condições de trabalho nas minas. Desde a introdução do certificado Kimberley para os diamantes, que visa garantir que as pedras sejam compradas apenas de fontes registradas e não envolvidas em conflitos, se fala em um processo semelhante para o ouro. Barkhordar está envolvido no desenvolvimento de uma entidade para essa certificação, a London Bullion Market Association's Responsible Gold Guidance (LBMA). O plano é que as refinarias reconhecidas pela LBMA "combatam abusos sistemáticos ou frequentes dos direitos humanos, para evitar contribuir com conflitos, para obedecer aos padrões altos contra a lavagem de dinheiro e combater a prática de financiamento de terrorismo". Segundo o diretor-administrativo da Pamp Gold, agora são necessários três meses de checagem antes de uma refinaria começar a receber ouro de uma mina. Para ativistas que defendem o comércio justo, a certificação é boa, mas não é o bastante. E eles exigem mais transparência. "As estatísticas de comércio suíças não dizem de onde vem o ouro importado para o país. O que queremos é que as estatísticas incluam a origem e também o destino do ouro que é negociado através da Suíça", afirmou a ativista Eva Schmassmann. No entanto, qualquer mudança na lei suíça parece muito distante. Enquanto isto, o preço do ouro continua alto. Existem outras commodities seguras como platina ou petróleo. Mas é o ouro que cativa o mundo há milhares de anos. E nem mesmo Barkhordar consegue explicar esse fato. "O ouro tem um papel especial, que não sei se alguém consegue explicar. Claro, você não pode comer ouro e ninguém vai morrer se ficar sem ouro. Mas é mágico", disse. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.