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Temporão desiste de proibir publicidade de paracetamol

No entanto, pediu que Anvisa orientasse os laboratórios a suspenderem a propaganda do analgésico

Por Fabiana Cimieri , Talita Figueiredo e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que orientasse os laboratórios a suspenderem a propaganda do paracetamol, que é o remédio mais prescrito contra a dengue. Mais cedo, chegara a falar em pedir a proibição dos comerciais: "Estou preocupado com a propaganda (do medicamento) na mídia. Isso eu vou pedir à Anvisa para proibir neste momento", disse ele, após participar da inauguração de mais uma tenda de hidratação de pacientes com a doença, na manhã desta sexta-feira, 4, na Penha, zona norte do Rio.   Veja também: Especial - Acompanhe o avanço da dengue  Rio tem dengue porque não fez dever de casa, diz Cabral Governo do Ceará confirma 4 mortes por dengue este ano Bahia registra segunda morte por dengue hemorrágica em 2008 Postos de saúde e PAMs do Rio deverão abrir 24 horas por dia   Segundo o ministro, há indícios de que algumas mortes, especialmente de crianças, podem ter ocorrido devido ao excesso do medicamento. Pesquisas científicas indicam que o uso excessivo de paracetamol pode provocar insuficiência hepática, que é a segunda causa de morte por dengue. "Não me parece razoável que nesse momento se faça propaganda de paracetamol. Isso pode levar à automedicação e no Rio o momento não é para se automedicar. Os médicos é que têm de ser os prescritores, não a mídia", disse Temporão.   Em nota, a Anvisa informou que solicitou formalmente à Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip) que oriente os fabricantes de analgésicos para a necessidade de suspensão temporária da propaganda desses medicamentos. "Essa medida tem a intenção de impedir que a população faça uso abusivo das substâncias analgésicas. O uso desses medicamentos pode retardar os sintomas da dengue, dificultando o diagnóstico e atrasando o tratamento da doença", afirma o documento.   Atualmente, o protocolo do Ministério da Saúde orienta os médicos a prescreverem paracetamol ou dipirona nos casos de suspeita de dengue. Temporão disse que a orientação continua a mesma, apenas pede aos laboratórios que não incentivem a automedicação.   O ministro ressaltou que o controle da propaganda deve ser feito apenas enquanto a epidemia estiver fora de controle. Ele também pediu aos laboratórios que em seus anúncios enfatizem a necessidade de prescrição médica antes de tomar qualquer droga, especialmente em casos de suspeita de dengue.   Aceitação   A Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), também em nota, deu apoio ao apelo do ministro. "Havendo risco sanitário, como indica o grave quadro endêmico da doença, é recomendável que as empresas do setor atendam à solicitação das autoridades, evitando, assim, qualquer situação de risco, ainda que remota, para a população", disse um trecho da nota. "Trata-se de uma postura coerente com a tradição da indústria farmacêutica de sempre colaborar com as autoridades em todas as situações de emergência em que se caracteriza ameaça à saúde pública", concluiu.   A Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac) recomendou a suspensão da propaganda, por entender que "a ética sobrepõe-se a eventuais ganhos que a venda do paracetamol poderia ter nesse momento".   O infectologista pediátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmilson Migowski, disse que não prescreve a droga para nenhum paciente. Em sua avaliação, não há estudos sobre a segurança e eficácia do paracetamol em casos de dengue. "O melhor a fazer é hidratação oral ou por soro", receitou.   Temporão inaugurou nesta sexta-feira a tenda de hidratação da Penha, na zona norte, ao lado do governador Sergio Cabral Filho e do secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes. No total, estão funcionando sete tendas do governo do Estado e três das Forças Armadas.   Cabral Filho anunciou que irá convocar os 4 mil guias cívicos que trabalharam no Pan-Americano e abrirá concurso para a contratação de 3,5 mil soldados do Corpo de Bombeiros. Nesta epidemia, já foram confirmadas 67 mortes por dengue no Estado e 44 no município.   Texto atualizado às 19h55 para acréscimo de informação

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