'The Washington Post' acusa EUA de drogar deportados

Segundo jornal, remédios psiquiátricos foram usados sem razão médica.

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Por Da BBC Brasil
Atualização:

O governo dos Estados Unidos teria drogado centenas de estrangeiros deportados com remédios usados para tratar distúrbios psiquiátricos com o objetivo de mantê-los sedados durante a viagem de volta a seus países, segundo uma reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal The Washington Post. Segundo o jornal, o uso dos remédios em pessoas sem nenhuma história de doença mental e sem nenhuma razão médica inclui dezenas de casos nos quais o chamado "coquetel pré-vôo" teria tido um efeito tão forte que os deportados tiveram de ser transportados em cadeiras de roda. O jornal afirma que as informações foram coletadas em registros médicos, documentos internos de imigração e entrevistas com pessoas que receberam a medicação. O The Washington Post identificou mais de 250 casos desse tipo desde 2003. Em um deles, em fevereiro de 2006, cinco guardas teriam pulado em cima de um homem de 49 anos que estava revoltado por estar sendo mandado de volta para o Equador. O jornal afirma que os guardas teriam segurado o homem no chão para que uma enfermeira desse uma injeção nele, segundo o relato da própria enfermeira no registro de deportação do equatoriano. 'Ignorando as regras' Em 2003, casos de deportação passaram a ficar a cargo de uma nova agência do Departamento de Segurança Nacional, a Immigration and Customs Enforcement agency, ou ICE. Segundo a reportagem, a ICE tem ignorado as próprias regras, que permitem que deportados sejam sedados apenas quando têm uma doença mental ou se eles são tão agressivos que podem representar um perigo para eles mesmos ou pessoas ao redor deles. Em junho, depois de ações na Justiça, a agência teria mudado sua política e passado a exigir uma ordem judicial antes de usar sedativos em deportados que apresentam comportamento agressivo. Mas o jornal diz ter identificado pelo menos um exemplo no qual o procedimento não foi seguido. Segundo a reportagem, quando o governo quer que um deportado seja sedado, um funcionário do setor de imigração pede permissão para a Divisão de Serviços Médicos de Imigração. Se o uso do sedativo for aprovado, um enfermeiro é apontado para escoltá-lo. Uma análise do jornal para os casos registrados em 2007 revelou que 67 deportados que foram acompanhados por um enfermeiro não tinham nenhum histórico de doença psiquiátrica. Dos 67, 53 receberam sedativos. Desses, 48 não tinham nenhum histórico de violência. Em alguns casos, mesmo pessoas que tinham histórico de violência estavam calmas no dia da deportação, afirma a reportagem. "Detido calmo desta vez", diz o registro de deportação de Yousif Nageib, em janeiro de 2007, para o Sudão, segundo o Washington Post. Segundo o jornal, ao pedir pelo sedativo, o funcionário de imigração observou que Nageib havia, no passado, fugido ao Canadá para evitar acusações de agressão e havia ajudado a instigar uma rebelião de presos. No entanto, afirma a reportagem, no dia da deportação o registro diz que ele "estava algemado e dizia que iria fazer o que nós queremos". Mesmo assim, Nageib recebeu o coquetel de drogas. O Washington Post afirma que grande parte das pessoas que foram sedadas havia resistido a deportação pelo menos uma vez. Segundo a reportagem, a maior parte dos deportados sedados recebeu um coquetel de três remédios que incluía Haldol, usado para o tratamento de esquizofrenia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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