PUBLICIDADE

Tradicional família carioca leiloa objetos raros

Por Heloisa Aruth Sturm
Atualização:

Pela primeira vez uma tradicional família carioca coloca a leilão uma série de objetos raros e obras de arte que ajudam a resgatar uma parte da história do Brasil. São cerca de 400 peças que pertenceram a Astrid Monteiro de Carvalho, falecida em 2010 em decorrência de um ataque cardíaco, e que serão negociadas esta semana no Atlântica Business Center, em Copacabana, na zona sul do Rio.O grande destaque do leilão é uma coleção de porcelana chinesa da Companhia das Índias que pertenceu à família real portuguesa. Vendida em pequenos lotes, a coleção de Astrid possui mais de 50 peças, cujos lances mínimos, somados, ultrapassam R$ 170 mil. "São peças relativamente baratas se considerarmos sua importância histórica", avalia a marchand Soraia Cals.Esses pratos, sopeiras e travessas fazem parte de um conjunto conhecido como Serviço dos Pavões, que contém o brasão de um casal da ave em suas louças e foi trazido de Portugal aos milhares quando a família real aportou no Brasil, em 1808. As louças eram usadas nos grandes banquetes oficiais oferecidos por D. João VI. Após a proclamação da República, em 1889, esses conjuntos foram dispersos e se tornaram uma raridade. Algumas peças só são vistas em museus, tal como a terrina em exposição no Museu Histórico Nacional, no centro do Rio.Há também peças valiosas que remontam ao período colonial brasileiro, tais como o pórtico de colunas salomônicas feito em madeira esculpida em estilo barroco, e o crucifixo feito em marfim e jacarandá. Doze imagens sacras de Astrid, católica devota, também irão a leilão. Além das porcelanas e objetos religiosos, serão leiloados diversos artigos de prata e de cristal, tapetes, móveis, esculturas e quadros.As duas principais telas serão leiloadas amanhã (7): o quadro Mulata, de Di Cavalcanti (1897-1976), cujo lance inicial será de R$ 350 mil, e Terraço Avarandado, do modernista pernambucano Cícero Dias (1907-2003), a R$ 125 mil. As peças à venda demonstram um estilo bastante eclético. "Ela não era nenhuma colecionadora em particular, não seguia nenhuma linha artística", afirma o filho mais velho de Astrid, Sérgio Francisco. "Nessa coleção estão objetos de uma vida inteira". Grande parte do acervo de Astrid foi herdado do pai, o empresário Joaquim Monteiro de Carvalho, responsável pela chegada da Volkswagen ao Brasil.O clã Monteiro de Carvalho é parte indissociável da elite carioca e da história da cidade. Dona do Grupo Monteiro Aranha, a família possui empresas atuando na área de papel e celulose, petróleo e incorporação imobiliária. A irmã de Astrid, Lilibeth, foi a primeira mulher do ex-presidente Fernando Collor. Seu avô, o arquiteto Alberto Monteiro de Carvalho e Silva, foi o responsável pela construção do Pavilhão da França na exposição do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, que posteriormente se tornou a sede da Academia Brasileira de Letras.EmpresárioAlém dos objetos pertencentes ao espólio de Astrid Monteiro de Carvalho, o leilão contará ainda com peças do empresário paulista Linneo de Paula Machado, falecido em 1942 num desastre aéreo. Aficionado por corridas de cavalos, hábito que adquiriu durante o período em que viveu em Paris, Machado era proprietário do Haras São José, em Rio Claro (SP), e mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 1910.O principal destaque dos dois últimos dias de vendas do leilão, entre sexta-feira e sábado, é a coleção iconográfica do Rio de Janeiro, que pertenceu a Machado. São 17 telas do ítalo-brasileiro Giovanni Battista Castagneto (1851-1900) que decoraram o palacete da família na Avenida São Clemente, em Botafogo. O casarão sediou a Casa Cor Rio no ano passado. Os lances mínimos para cada quadro variam entre R$ 8 mil e R$ 160 mil. Haverá também objetos de outros colecionadores, tais como livros de viagens impressos entre os séculos 16 e 19, joias desenhadas por Roberto Burle Marx, desenhos de Oscar Niemeyer e quadros de Iberê Camargo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.