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Três pessoas morrem após exame de ressonância magnética em Campinas

Por Ricardo Brandt , CORRESPONDENTE e CAMPINAS
Atualização:

Três pessoas morreram na segunda-feira após terem sido submetidas a exames de ressonância magnética no Hospital Vera Cruz, em Campinas (SP). Ontem, a Secretaria Municipal de Saúde determinou a suspensão de todos os exames desse tipo e de tomografias, feitos com uso de contraste, nos hospitais e clínicas da cidade, até que seja descoberta a causa das mortes."Vários aspectos nos intrigam: outros 83 pacientes realizaram o exame no mesmo dia e estão bem, os contrastes utilizados nas vítimas eram de laboratórios diferentes, os equipamentos de ressonância também foram distintos e os funcionários não foram os mesmos", afirmou a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas, Brigina Kemp, que encabeça o grupo multidisciplinar formado para investigar o caso.As vítimas tinham entre 25 e 39 anos e não apresentavam problemas de saúde, segundo a direção do hospital. O ponto em comum foi que os três - dois homens e uma mulher - passaram pelo mesmo tipo de exame: uma ressonância magnética do crânio com uso de contraste.A primeira vítima, Mayra Cristina Monteiro, de 25 anos, chegou a sair do hospital e ir para o trabalho após o exame. Mas se sentiu mal e voltou para o hospital, onde morreu. O corpo de Mayra foi enterrado no final de tarde de ontem no Cemitério dos Amarais, em Campinas. Familiares disseram estar revoltados com a possibilidade de erro.Os outros dois pacientes morreram logo após o exame, em decorrência de parada cardiorrespiratória, ainda dentro do Vera Cruz, hospital particular referência em Campinas. O corpo de Pedro Ribeiro Porto Filho, de 36 anos, foi enterrado ontem na cidade. O do zelador Manuel Pereira de Souza, de 39 anos, seguirá para Santa Rita de Cássia (BA).Exames. O diretor administrativo do Vera Cruz, Gustavo Sérgio Carvalho, afirmou que funcionários telefonaram para os pacientes submetidos a exames no mesmo dia, em horários anteriores às três vítimas fatais, e nenhum deles relatou reações. "Não conseguimos achar uma explicação para isso", disse. Segundo ele, o hospital tem três equipamentos do tipo e realiza, em média, de 1,8 mil a 2 mil exames por mês. "Em 22 anos do Centro Radiológico de Campinas, que funciona dentro do Vera Cruz, nunca houve registro de um problema desse tipo", conta Carvalho. Na segunda-feira, o próprio hospital comunicou as autoridades de saúde do município e a Polícia Civil sobre as mortes. Todo material usado nos exames, medicamentos, soro e até o lixo hospitalar foram recolhidos pela perícia para análise. Parte do material foi levado para o Instituto Adolf Lutz, em São Paulo, informou o delegado Alessandro Marques. As famílias das vítimas registraram boletins de ocorrência para apurar responsabilidades do hospital no caso."Levantamos a literatura médica, e é um caso extremamente raro. Há registros de reações no caso do uso do contraste, mas as mortes são raras", afirmou o secretário de Saúde de Campinas, Carmino Antonio de Souza.Na noite de segunda-feira, a Vigilância em Saúde já havia interditado o setor responsável pelos procedimentos no Vera Cruz. Entre as linhas de investigação estão problemas na matéria-prima do contraste usados nos exames - composto químico a base de gadolínio utilizado para melhorar a definição das imagens e o diagnóstico. Além do contraste, são investigados a qualidade dos soro usado nos pacientes, os equipamentos de ressonância para averiguar erros na dosagem do contraste ou na radiação, falhas humanas e reações adversas dos pacientes. Por determinação do prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), a Secretaria Municipal de Saúde ordenou preventivamente que todos os hospitais e clínicas suspendam temporariamente exames feitos com o uso de contraste. A Secretaria de Estado da Saúde enviou uma equipe especializada em farmacovigilância e radiação ionizante para auxiliar nas investigações.

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