Tríplice Fronteira é foco de tráfico humano, diz especialista

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Por ADRIANA GARCÍA
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Cerca de 20 vítimas do tráfico humano, principalmente jovens e crianças destinados à exploração sexual, passam diariamente pela Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, e o problema precisa de uma resposta multinacional, segundo uma especialista. A paraguaia Cynthia Bendlin, coordenadora regional da Organização Internacional para as Migrações (OIM, um órgão da ONU), disse que há cerca de 6.000 vítimas potenciais de abuso nessa zona fronteiriça. "A vulnerabilidade da população a torna mais propensa a ser vítima do tráfico humano", disse à Reuters a especialista, que recebeu nesta semana um prêmio do Departamento de Estado dos EUA concedido anualmente a oito mulheres por seu ativismo pelos direitos femininos. O tráfico humano afeta principalmente mulheres de 18 a 24 anos, mas é cada vez maior o número de vítimas menores de idade. Normalmente, o aliciamento começa em zonas pobres e rurais do Paraguai, e as moças são enviadas para cidades turísticas da Tríplice Fronteira ou para Buenos Aires, segundo Bendlin. "Essas mulheres ou meninas são captadas com promessas de trabalho, como é o caso do trabalho doméstico, para serem as chamadas 'criaditas', ou com promessas de fazer casting de modelos e serem levadas para Buenos Aires", afirmou. Segundo Bendlin, as vítimas sofrem estupros, têm os documentos retidos e ficam privadas de liberdade enquanto são exploradas e viajam até Buenos Aires ou outro destino final, que pode ser na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Na Europa, os lugares que mais recebem as vítimas são a Espanha e o norte da Itália, disse a especialista. "Essa é uma situação global", afirmou ela. Só em Ciudad del Este (Paraguai), as organizações de ajuda atenderam cerca de 140 vítimas e seus familiares no ano passado, disse a ativista. O tráfico humano, segundo ela, é a terceira principal fonte de renda de organizações criminosas, movimentando mais de 36 bilhões de dólares por ano (fica atrás apenas do narcotráfico e do tráfico de armas). Ela disse que melhorou nos últimos tempos a colaboração entre Brasil, Argentina e Paraguai, mas que ainda faltam nesses países leis contra a exploração humana e uma formação específica de juízes e promotores para combater o problema. Para evitar que as vítimas caiam nas mãos dos exploradores, os governos precisariam investir mais em educação e criação de empregos, acrescentou ela. "As organizações de atendimento às vítimas estão pedindo que se trabalhe muito na prevenção, porque a recuperação dessas vítimas é uma tarefa sumamente difícil e (o tráfico) implica violações graves dos direitos básicos." (Reportagem de Adriana Garcia)

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