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Tyson é um ensaio sobre a fraqueza do homem forte

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Mike Tyson hoje compreende a si mesmo. Diz que é um homem de extremos, incapaz de viver no meio-termo. Por isso foi capaz de esbanjar US$ 400 milhões e ir à insolvência, do topo do mundo ao fundo do poço. Foi o homem indestrutível, que derrotava adversários temíveis no primeiro round, e beijou a lona sob ação de pugilistas pangarés. Esse é o personagem que emerge do ótimo documentário Tyson, de James Toback. O centro do filme é entrevista com o lutador, entremeada de material de arquivo - das principais lutas e de algumas passagens inglórias: brigas com a primeira mulher, a acusação de estupro que lhe custou três anos de prisão. Algumas raras cenas familiares: por exemplo, quando encena uma luta com a filhinha e vai a nocaute. Uma figura domina o imaginário do lutador - a do seu mentor Cus D"Amato, que o tirou das ruas e o transformou em vencedor. D"Amato é figura lendária do boxe americano e foi imortalizada em texto famoso de Norman Mailer. Seu método era fazer com que o lutador respeitasse o próprio medo. O medo ensina e, quando sob controle, torna-se o maior aliado do pugilista, acreditava. D"Amato morreu sem ver seu pupilo ser campeão do mundo. E assim, por paradoxo, o documentário torna-se um ensaio sobre a fraqueza do homem forte. Menino de rua, marginal, sem pai, mãe prostituta, criado em reformatórios, Tyson teve carreira meteórica. Era mais baixo e mais leve que a maioria dos pesos pesados. Mas, imensamente forte e rápido. Além disso, assistia obsessivamente a filmes com lutas dos grandes pugilistas. Assimilou muito do que viu e, por um período, tornou-se imbatível. Perdeu para si mesmo, para a vida promíscua, drogas, álcool, o próprio ego, órfão da figura paterna de D"Amato. O filme é a história dessa tragédia pessoal. ServiçoTyson (EUA, 88 min.)Cine Bombril 1 - Hoje, 14 hUnibanco Arteplex 3 - Domingo, às 23h40

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