Uber e a desordem

Artigo publicado originalmente no Estadão Noite Aventureiros desafiando produtores estabelecidos. Inovações mesquinhas destruindo empregos seguros para apenas atrair consumidores, fracos, que trocam de fornecedor ao primeiro sinal de produto melhor ou mais barato. Eis por que precisamos do Estado, dos cartórios, federações empresariais, corporações de ofício, conselhos e ordens profissionais. Sem essas instituições para organizar os produtores de bens e serviços, como proteger os guardiões da renda nacional contra a sede consumista de mais por menos. Traídos, os taxistas não se acovardam. Cobram que o poder público cumpra seu papel na sociedade. Licenças, vistorias, taxas e outras exigências legais não existem para que se permita que uma plataforma qualquer possa competir no mercado de transporte. Carros novos, motoristas educados e bem vestidos, água e outros atrativos ao passageiro. Não tem cabimento! O recado é claro. Ou bem se age agora, ou se arrisca desmoronar toda a estrutura produtiva do País. Como não ver que, cedo ou tarde, inventarão uma plataforma de autenticação eletrônica de documentos, ameaçando nosso sofisticado sistema cartorário. Como não se apavorar com o risco de uma simplificação do processo de importação, com desembaraço alfandegário via internet, submetendo produtores domésticos à desumana competição internacional. Imaginem um serviço que monitore ônibus em seus pontos de parada. Empresas aéreas internacionais operando voos domésticos, competição no mercado de crédito. Poderíamos até, pasmem, termos bebidas ofertadas em farmácias e remédios em supermercados. Uma vez iniciado, esse processo não terá fim! Os consumidores se sentirão fortalecidos em sua maioria e demandarão tudo o que pensam ser direito. Pior, usarão sua condição majoritária para chantagear políticos, levando-os a combater nossa cordial teia de proteção ao produtor. Que se proíba o Uber! Que se puna exemplarmente a inovação. Como bem se sabe, a liberdade traz consigo desafios por demais perturbadores.

PUBLICIDADE

Por Luis Henrique Bertolino Braido
Atualização:

* Luis Henrique Bertolino Braido é PhD em economia pela Universidade de Chicago; professor da FGV/EPGE; pesquisador do CNPq

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.