Uma em cada três crianças brasileiras está acima do peso, revela IBGE

Levantamento sobre estado nutricional da população, entre 2008 e 2009, constata que tendência de sobrepeso e obesidade em crianças de 5 a 9 anos teve 'aumento explosivo' nas últimas duas décadas; especialista vê alimentos industrializados como vilões

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Por Felipe Werneck
Atualização:

Uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos tem excesso de peso, revela o IBGE. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 sobre o estado nutricional da população mostra que a frequência de sobrepeso e obesidade nessa faixa etária apresentou "aumento explosivo" nas duas últimas décadas. Entre os adolescentes, 20% estão com peso acima do padrão internacional estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema atinge pessoas de todos os grupos de renda, nas cinco regiões. "O que preocupa é a tendência de aceleração, principalmente entre os jovens. Ou seja, está aumentando mais nos últimos anos do que vinha aumentando antes. Fazendo uma projeção, no prazo de 10 a 15 anos, o padrão das crianças e adolescentes brasileiros será o americano", disse o professor de Saúde Pública da USP Carlos Monteiro, que atuou como consultor do IBGE. Nos EUA, dois terços da população e um terço dos adolescentes estão com excesso de peso. A pesquisa, que ouviu e realizou medições em 188.461 pessoas de todas faixas etárias e de renda em todo o País, mostrou ainda que metade da população adulta está acima do peso (mais informações nesta página). Monteiro defendeu a criação de uma política fiscal que torne produtos industrializados menos acessíveis do que os outros alimentos. "Obesidade não se trata, se previne." Existe hoje uma tendência crescente de substituição de alimentos tradicionais na dieta (como o feijão, cujo consumo caiu 8% nos últimos dois anos) por bebidas e produtos industrializados. Por isso o IBGE destacou a importância de medidas como o controle da publicidade de alimentos não saudáveis. Outro ponto é o sedentarismo. Dados de 2008 indicam que apenas 10% das pessoas com 14 anos ou mais praticavam exercício físico regularmente. Alerta. Ao comentar os resultados, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, comemorou a manutenção da tendência de queda na desnutrição infantil, mas reconheceu que os dados sobre excesso de peso são "preocupantes" e "acendem um alerta vermelho". "Excesso de peso, obesidade e falta de atividade física projetam hipertensão arterial, diabetes, enfarte, acidente vascular cerebral, câncer e afetam profundamente a qualidade de vida", disse o ministro. Ele citou a violência urbana como fator responsável pela queda das atividades físicas e esportivas. "A violência tirou as crianças das praças. Elas ficam vendo TV e jogando videogame." Temporão afirmou que na sua gestão foram gastos R$ 300 milhões em promoção da saúde."Isso aumentou de R$ 8 milhões em 2002 para R$ 300 milhões agora. Quero destacar que o recente Congresso Mundial de Obesidade apontou dois países que estão na vanguarda de políticas para enfrentamento da situação, Inglaterra e Brasil." Ele também citou políticas para mudar a oferta de alimentos nas escolas e o controle da propaganda de alimentos infantis. "Temos de trabalhar de maneira mais radical." Já a distribuição por classes de rendimento mostra que, entre os meninos, no grupo das famílias com maior renda, quase metade deles (46,2%) apresentava excesso de peso, ante 26,5% na faixa dos 20% mais pobres. A diferença também existia entre as meninas, embora com menor intensidade. A obesidade atingia quase um quarto (23,6%) dos meninos de famílias com maior renda. O estudo mostra que as curvas de evolução do peso mediano até 9 anos ultrapassam o padrão internacional - a distância aumenta de acordo com a evolução da idade. Desnutrição. Apesar da queda da desnutrição infantil comemorada pelo ministro, o problema persiste no Norte e em famílias com rendimentos mais baixos. A POF já havia constatado aumento real dos rendimentos e das despesas médias das famílias no País, mas o estudo sobre os alimentos adquiridos só será divulgado em dezembro.

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