Unicamp pesquisa jazidas por satélite

Geólogos da Unicamp testam diversos sensores, aerotransportados e de satélite, quanto ao potencial para avaliação remota de jazidas minerais, reduzindo custos e prazos na prospecção.

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A prospecção de campo, com base em mapas geológicos e amostragem de solos e rochas, já não é a única alternativa para a localização de jazidas minerais, no Brasil. A avaliação remota de concentrações minerais importantes, a partir de sensores aerotransportados ou instalados a bordo de satélites, está em vias de se tornar uma ferramenta complementar operacional, capaz de reduzir custos e prazos na busca de novas jazidas. "Trabalhamos primeiro na montagem de uma biblioteca de assinaturas espectrais de ultra detalhe dos diversos minerais metálicos de interesse, como ouro, platina, chumbo, zinco, cobre", conta o engenheiro geólogo Carlos Roberto de Souza Filho, diretor do Departamento de Geologia e Recursos Naturais do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IGE-Unicamp). Com a colaboração do geólogo Álvaro Crosta, também da Unicamp, Souza Filho montou o Laboratório de Espectroscopia de Reflectância, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a um custo de US$ 100 mil, mais cerca de US$80 mil para custeio das pesquisas. Conforme explica, assinatura espectral é a forma característica de cada mineral refletir e/ou interagir com a luz solar, registrada numa imagem. As assinaturas de cada mineral vem sendo obtidas a partir de análises feitas no aparelho que dá nome ao laboratório - o espectrômetro de reflectância - com ajuda de softwares, desenvolvidos na Unicamp, para adequação aos tipos de solos e rochas brasileiros. Depois de constituir a biblioteca de amostras, com as assinaturas espectrais, os pesquisadores passaram a avaliar a possibilidade de reconhecer o mesmo tipo de resposta em imagens produzidas por sensores remotos, o que indicaria a presença das jazidas. Algumas identificações iniciais foram realizadas em áreas desérticas do Peru e da Argentina, onde a ausência de vegetação ou a vegetação rala e esparsa facilitam a calibragem do sistema. Em seguida, foram feitas avaliações em jazidas conhecidas de Carajás (PA), Itacambira, Monte Azul e Quadriláterio Ferrífero (MG), Parecatu (DF), Alto Paraíso (GO), Castro (PR) e Itapicuru (BA). IGE/UnicampImagem em infravermelho mostra as florestas de Carajás em vermelho e a área de mineração em azul. Foram testados tanto sensores hiperespectrais, com até 224 bandas - como o sofisticado AVIRIS (Advanced Visible and Infrared Imaging Spectrometer), do Jet Propulsion Laboratory da Agência Espacial Norte Americana (JPL-Nasa), que é aerotransportado e ainda está na fase experimental - quanto os multiespectrais mais conhecidos como o ETM (Enhanced Tematic Mapper), também norte americano, integrado ao satélite Landsat 7, com 6 bandas. Na faixa intermediária, ainda se avaliaram as respostas do sensor ASTER, a bordo do satélite nipo-americano Terra e o Geoscan, de 24 bandas, que é aerotransportado. "Com base na assinatura espectral simulamos o comportamento do mineral na resolução de qualquer sensor para saber quanto detalhe é necessário para identificar as jazidas, sem confundir dois tipos de mineral diferentes", continua Souza Filho. A grosso modo já se pode dizer, que a resolução espacial necessária fica entre 5 a 30 metros, o que inclui a maioria dos satélites. No caso das jazidas, o número de bandas é mais importante do que uma resolução muito alta, como a dos satélites mais recentes como o Ikonos ou QuickBird. O próximo passo será verificar se é possível relacionar certos tipos de cobertura vegetal com a presença de determinados minerais. "A cobertura vegetal fechada, seja um campo com gramíneas ou uma floresta, impede a visualização do solo e, portanto, a identificação dos minerais, mas algumas jazidas estão associadas a anomalias do solo e é possível que tais anomalias se reflitam no tipo de cobertura vegetal, que é uma das questões em estudo", diz Souza Filho. Cerca de 15 pós doutores e pós graduandos já passaram pelo laboratório, trabalhando neste projeto de pesquisa, com apoio de bolsas da própria Fapesp, do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Segundo Souza Filho, "ainda há várias questões a resolver antes de tornar o sistema operacional, na prospecção de jazidas, mas o sensoriamento remoto pode se tornar o segundo martelo dos geólogos".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.