PUBLICIDADE

Universidade já teve caso de agressão

Episódio ocorreu em abril envolvendo estudantes da Uniban, onde jovem que usava vestido curto foi acuada

Por Flavia Tavares
Atualização:

O episódio das agressões a Geisy Arruda, a aluna perseguida no câmpus da Universidade Bandeirante (Uniban) de São Bernardo do Campo por usar um vestido curto, mobilizou as atenções durante a semana. Mas há um outro caso de violência contra alunos na mesma faculdade, ocorrido em abril deste ano, que também foi divulgado em vídeos no YouTube e mostra um ambiente de hostilidade entre os estudantes.Durante uma série de protestos de alunos contra uma mudança no sistema de provas e aulas da faculdade, na noite de 2 de abril, a aluna A.S.N., de 30 anos, que cursava Educação Física havia dois meses, tentou se livrar da multidão. Havia acabado de entrar no curso e não queria se envolver em confusão. Ela arrancou com seu Uno branco, que aparece nas imagens com dois cones de trânsito presos ao para-choque (veja sequência acima). Acusada de ter atingido uma outra aluna, A. deu ré. Mas logo se arrependeu quando os manifestantes, exaltados, partiram para cima dela, chutando e destruindo seu carro. "Eu não atropelei ninguém. Tanto que a investigação está rolando e essa suposta atropelada nunca apareceu", diz A. O vidro que quebrou atingiu seu rosto e ela teve um corte no supercílio. Em seguida, A. foi arrancada de dentro do veículo e agredida com socos e pontapés, que lhe deixaram com duas costelas luxadas e vários hematomas pelo corpo. No vídeo da internet, é possível ouvir alguém na multidão: "Vão bater em mulher? Estão loucos?"A. finalmente conseguiu se livrar dos agressores e partiu com seu carro amassado. Na manhã seguinte, registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher de São Bernardo. Largou a faculdade e deu início a um tratamento psicológico. "Fiquei totalmente abalada. Não tinha clima para voltar", explica.Ela lembra que nos momentos da confusão não teve ajuda alguma dos seguranças da Uniban. "Eles se preocuparam em proteger o prédio dos vândalos. Mas os alunos não tiveram nenhuma proteção."O marido de A. assumiu, nos dias seguintes, as conversas com a faculdade para resolver a situação da mulher. Segundo ele, que também não quis se identificar, teve encontros com o reitor e o coordenador pedagógico da Uniban do ABC. "Ouvi que a faculdade não poderia se responsabilizar por atos de alunos", conta, indignado. "E que aquele seria um ato isolado. Agora, com o caso da minissaia, fica provado que não é."O casal é unânime ao dizer que o ambiente do câmpus de São Bernardo é muito hostil. E que a diretoria sempre argumentou que isso é "fruto da democracia da faculdade". "Eu tinha medo de sair sozinha à noite da aula. Aquilo parecia um arrastão, os alunos não têm cultura", lembra A.Ela e seu marido também acreditam que houve omissão da diretoria no episódio de violência contra A., porque os protestos estavam acontecendo desde o dia anterior e o clima vinha esquentando. "As autoridades deveriam ter acionado a Polícia Militar para acompanhar as manifestações e evitar que isso acontecesse", diz o marido, que é policial. "É uma pena que alguém queira estudar e seja agredido dessa maneira."Procurada ontem pela reportagem, a diretoria da Uniban não havia se manifestado até o fechamento desta edição.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.