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Vale condiciona projeto de US$6 bi na Argentina à queda de imposto, diz fonte

Por ESTEBAN ISRAEL
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A mineradora brasileira Vale espera que a Argentina dê uma resposta até o fim de fevereiro sobre sua demanda por benefícios fiscais e cambiais para decidir o futuro do seu projeto de potássio de 5,9 bilhões de dólares naquele país, disse nesta quinta-feira uma fonte de governo brasileiro. A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, paralisou a obra da mina do projeto Rio Colorado, na província de Mendoza, em dezembro, enquanto avalia "as variações nos fundamentos econômicos" do país, que tem uma inflação anual de 25 por cento, segundo cálculos privados. "A Vale vai esperar até 28 de fevereiro para ver se a coisa se resolve, se consegue o que está pedindo", disse à Reuters uma autoridade da área econômica do governo brasileiro a par das negociações, que falou sob condição de anonimato. A Reuters noticiou na segunda-feira que a mineradora pediu isenção do imposto sobre valor agregado (IVA) e uma taxa de câmbio mais favorável do que a oficial para compensar o aumento dos custos. "A bola está no campo dos argentinos", acrescentou. As dúvidas sobre o investimento da Vale, que transformaria a Argentina em um dos maiores produtores mundiais de potássio, coincidem com um clima de deterioração econômica no país vizinho e com a redução dos investimentos da mineradora brasileira ante a queda dos preços do minério de ferro. Uma porta-voz da Vale no Rio de Janeiro não quis comentar sobre o projeto Rio Colorado. Mas, de acordo com a fonte do governo, a Vale sustenta que já investiu mais do que o previsto e para prosseguir precisa de redução dos impostos. "A Vale quer ver o que pode ser feito para manter o investimento inicialmente previsto," disse a autoridade. A Vale diz que investiu 1,805 bilhão de dólares no Rio Colorado, e que completou 40 por cento das obras físicas até o final do terceiro trimestre. Fontes do mercado na Argentina calculam que a isenção do IVA significaria uma economia de 1 bilhão de dólares para a Vale. O futuro do projeto estará na pauta quando a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e Dilma Rousseff se encontrarem no início de março, na Patagônia. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Fernando Pimentel, discutiu o assunto na segunda-feira em Buenos Aires com seu colega argentino do Planejamento, Julio de Vido. Autoridades brasileiras dizem reservadamente que a Argentina precisa de investimento e isso deve facilitar um entendimento. O prazo de 28 de fevereiro, segundo eles, poderia, teoricamente, ser prorrogado por mais 20 dias. A mineradora brasileira comprou em 2009 da Rio Tinto os ativos Rio Colorado, uma região rica em potássio, usado na preparação de adubo. O plano seria abastecer o Brasil, potência do agronegócio, que atualmente importa 90 por cento de sua demanda anual por fertilizantes. O projeto de 6 bilhões de dólares deveria começar a produzir em 2014 com uma capacidade inicial de 2,4 milhões de toneladas métricas por ano, que depois aumentaria para 4,3 milhões de toneladas. Fontes do mercado dizem, no entanto, que o início das operações pode ser adiada por até três anos. As obras, que também incluem 800 quilômetros de trilhos de trem e um terminal no porto marítimo de Bahía Blanca, ao sul de Buenos Aires, empregam cerca de 4.000 trabalhadores. Dificuldades na desapropriação de terras na província central de La Pampa encareceram consideravelmente o projeto e podem levar a Vale a considerar uma rota alternativa, disseram fontes da indústria. A Vale pisou no freio em abril de 2012, quando o presidente-executivo Murilo Ferreira ordenou uma revisão do projeto citando uma crescente "preocupação" sobre a situação econômica na Argentina e no clima político, após a nacionalização de 51 por cento da petrolífera YPF da espanhola Repsol. Em 24 de janeiro, a empresa disse que tinha estendido o recesso de fim de ano dos trabalhadores no Rio Colorado para analisar os fundamentos econômicos do projeto, o que significa que os trabalhos estão parados desde fim de dezembro. Com uma inflação estimada em 25 por cento ao ano e uma moeda que não se deprecia na mesma velocidade, os custos em dólares de empresas como a Vale crescem rapidamente. Os investimentos na Argentina também foram atingidos pelas restrições impostas pelo governo para a compra de moeda estrangeira, o que abriu uma diferença de 55 por cento entre as cotações do peso nos mercados oficial e paralelo. (Reportagem adicional de Guido Nejamkis, em Buenos Aires)

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