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Vale reduz investimento e meta de produção para 2013

Por SABRINA LORENZI E JEB BLOUNT
Atualização:

A Vale, segundo maior mineradora do mundo e maior produtora de minério de ferro do mundo, reduziu o seu plano de investimentos e a meta de produção para 2013, em meio à queda no preço do seu principal produto de venda e a sinais de desaquecimento da economia da China, o seu maior cliente. A gigante brasileira anunciou nesta segunda-feira que pretende investir 16,3 bilhões de dólares no próximo ano, 24 por cento a menos que o plano anunciado para 2012, num momento em que a mineradora vê perspectivas de uma demanda apenas "moderada" por minério e metais. "O super ciclo da mineração acabou", disse o presidente da Vale, Murilo Ferreira, referindo-se ao boom no consumo de minérios e metais liderado pelos chineses nos últimos anos. A empresa havia anunciado no final do ano passado investimentos de 21,4 bilhões de dólares para 2012, montante que foi revisado nesta segunda-feira para 17,5 bilhões de dólares. "Embora ainda haja crescimento no mercado de minério de ferro, ele será mais lento", acrescentou o diretor de Ferrosos e Estratégia da mineradora, José Carlos Martins. Os dois participaram de evento em Nova York para detalhar o plano de investimentos da companhia, divulgado mais cedo. "As perspectivas de uma expansão moderada da demanda global por minérios e metais no médio prazo requerem rígida disciplina na alocação de capital e maior foco em maximizar eficiência e minimizar custos", disse a mineradora em comunicado. A expectativa de um mercado mais estagnado também se reflete nas metas de produção da empresa. A mineradora estima produzir 306 milhões de toneladas de minério de ferro no próximo ano, um pouco menos do que a empresa previa para 2012. No plano de negócios divulgado no final do ano passado, a Vale anunciara meta de produzir 312 milhões de toneladas em 2012, o que deverá ser alcançado, segundo especialistas. A empresa produziu 234,4 milhões de toneladas de minério entre janeiro e setembro. "Nossa prioridade mudou do crescimento marginal de volume para volumes com eficiência de capital, uma mudança que impacta profundamente a forma de gerir capital", afirmou a companhia, ao anunciar investimentos para 2013. Mesmo com a produção menor, a Vale deverá manter o posto de maior produtora do mundo. A mineradora Rio Tinto, segunda maior produtora de minério do mundo, espera elevar a sua capacidade de produção para 290 milhões de toneladas por ano até o fim de 2013. Murilo Ferreira disse ainda que a empresa espera que os preços do minério de ferro variem entre 110 e 140 dólares por tonelada no próximo ano. O minério está cotado a cerca de 115 dólares por tonelada, perto do nível mais baixo desde meados de outubro, mas significantemente mais que as mínimas de três anos, abaixo de 90 dólares por tonelada, atingidas em setembro devido a uma fraqueza na demanda chinesa. MAIOR FOCO O plano anunciado para 2013 indica que a mineradora reduzirá investimentos pelo segundo ano seguido. Em 2011, a companhia investiu 18 bilhões de dólares. "Mais do que nunca, estamos fortemente comprometidos em investir somente em ativos de classe mundial, capazes de criar valor ao longo dos ciclos e que possuam vida longa, baixo custo, possibilidades de expansão e produção de alta qualidade", afirmou o presidente da Vale em nota pela manhã. A empresa continua destinando a maior parte dos seus investimentos para projetos de minério de ferro, seu carro-chefe. Quase 47 por cento do total -- 7,65 bilhões de dólares --serão destinados à área de minerais ferrosos. Outros 3,78 bilhões de dólares serão investidos em metais básicos, enquanto 1,3 bilhão de dólares e 520 milhões de dólares irão, respectivamente, apoiar negócios de fertilizantes e siderurgia. "A Vale está desenvolvendo um portfólio de crescimento orgânico mais focado, que compreende um menor número de projetos, porém com maiores taxas de retorno esperadas", disse. DESINVESTIMENTOS Paralelamente, a empresa realiza desinvestimentos, com a venda de ativos de petróleo e de logística, entre outros negócios que fogem do principal foco da companhia. A Vale, que possui uma gigantesca estrutura de portos e ferrovias, vai vender de 50 por cento a 70 por cento de uma empresa de logística criada para concentrar ativos de carga geral, que não deve incluir a logística de produtos de mineração. A fatia, anunciada no evento para detalhar o plano de investimentos, é bem maior que os 33 por cento inicialmente previstos, disse Ferreira. A empresa informou ainda que precisa de menos pesquisas em novas minas e desenvolvimento de projetos, agora que a economia mundial abrandou o crescimento. A estratégia da Vale é se desfazer de ativos que fogem de suas prioridades para concentrar esforços em projetos mais rentáveis e mais relevantes em sua estratégia de crescimento. Entre os projetos prioritários, Serra Sul, em Carajás, no Pará, demandará investimentos de 8 bilhões de dólares para produzir 90 milhões de toneladas anuais. Com desembolsos de 658 milhões de dólares previstos para 2013, o projeto deve entrar em operação no segundo semestre de 2016. SEM SURPRESA Os analistas Alexander Hacking, do Citi, e Marcos Assumpção, do Itaú, afirmaram em e-mail a clientes que os investimentos anunciados para 2013 eram esperados. "Este anúncio não traz nenhuma surpresa ao mercado, esperamos uma reação neutra das ações da empresa", disse o analista do Itaú. As ações da Vale fecharam em queda de 0,05 por cento, enquanto o Ibovespa encerrou em alta de 1,2 por cento. O Citi destaca um aumento de 10 a 20 por cento no custo de três projetos-chave da companhia, o que considera um "desapontamento". A Vale apontou que terá custos maiores para o projeto de cobre Salobo II; Long Harbor, um projeto de níquel no Canadá, e a siderúrgica de Pecém, no Ceará. Do total de dispêndios, 10,1 bilhões de dólares irão para execução de projetos, 5,1 bilhões de dólares irão para a sustentação de operações existentes e 1,1 bilhão de dólares ficarão com a área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). A Vale já vem enxugando a carteira de projetos nos últimos meses, e o investimento em 2012 ficará cerca de 18 por cento menor do que planejado inicialmente. A empresa também já havia recuado de projetos complicados como Simandou, de minério de ferro na Guiné, e Apolo, que tem sua implementação, em região de aquíferos em Minas Gerais, questionada por ambientalistas. Também foram paralisados a construção da siderúrgica do Pará (Alpa), e Kronau, um projeto de potássio no Canadá. (Reportagem adicional de Paula Laier, em São Paulo)

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