Vila Isabel apresenta carros alegóricos inacabados

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Por FÁBIO GRELLET E THAISE CONSTANCIO
Atualização:

Atual campeã do carnaval carioca e terceira escola a desfilar na Sapucaí, a Vila Isabel decepcionou, apresentando carros alegóricos inacabados e um tumulto que começou ainda na concentração e se estendeu pelo desfile. A apresentadora Sabrina Sato, rainha de bateria da escola, recebeu sua fantasia minutos antes do início da exibição. Um motoboy precisou buscar as últimas peças e entregá-las no camarote onde Sabrina aguardava, apreensiva. Ela não foi a única: componentes contavam na concentração, pouco antes de entrar na avenida, que ainda não tinham fantasia.A escola trouxe o enredo "Retratos de um Brasil plural", que retratava os diferentes biomas do território brasileiro e homenageava o folclorista Câmara Cascudo e o ambientalista Chico Mendes. Logo na primeira ala, parte dos componentes estava sem adereços de cabeça, o que pode resultar em perda de pontos. Nos carros se via pouco luxo e muito uso de materiais baratos. A desorganização era previsível porque, após o título no carnaval passado, houve um desmonte que incluiu a saída da carnavalesca Rosa Magalhães e de vários outros líderes. O carnavalesco Cid Carvalho, contratado para este carnaval, ficou quase dois meses fora da escola por suposta falta de pagamento de salários e só retornou em janeiro, após o acerto das contas atrasadas.Antes da Vila, desfilaram Mocidade Independente e União da Ilha. A Ilha optou por brincar literalmente o carnaval. Tendo a infância como enredo e sem grandes recursos para investir, a escola trocou o luxo, a suntuosidade e os recursos tecnológicos por fantasias e alegorias simples e de fácil compreensão.A comissão de frente mereceu aplausos e gritos da plateia com um baú de brinquedos e lembranças. Uma bailarina e um soldadinho de chumbo presos por varas flexíveis, que envergavam sobre as frisas, encantaram o público: pareciam que flutuavam. As primeiras alas representaram brinquedos simples como dominó e pião, e a linha do tempo seguiu representando soldadinhos de chumbo, cavalos de pau, bonecas de porcelana e bichos de pelúcia. Um carro alegórico representava uma mesa gigante de pebolim, onde foliões desempenhavam a função de jogadores.Conforme o tempo avançava, surgiam astros do desenho animado, como He-Man e She-ra, menções ao fliperama e a videogames. Uma ala representava o jogo Pac-Man.Conscientes de que, se a escola ainda não tem condições de disputar o título, também não corre risco de rebaixamento, os foliões cantaram o samba e evoluíram corretamente. Sem correr risco de estourar o tempo máximo de desfile, ao fim a bateria permaneceu mais de dois minutos na parte final da pista, comemorando a bela apresentação.Antes da Ilha, a noite foi aberta pela Mocidade, que prestou uma homenagem dupla: ao carnavalesco Fernando Pinto, responsável por carnavais da escola entre 1980 até sua morte, em 1987, e ao estado de Pernambuco, onde ele nasceu. O colorido e a alegria da escola animaram o público, mas talvez não sejam suficientes para convencer os jurados. Pinto fez história por sua inventividade e ousadia e conduziu uma das revoluções por que o carnaval carioca passou na segunda metade do século 20. O futurista "Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas", campeão em 1985 e considerado sua obra-prima, foi destacado no desfile da Mocidade. O carnavalesco Paulo Menezes tentou, porém não conseguiu reproduzir a emoção dos carnavais históricos da escola dos anos 80 criados por Pinto. Ele prometeu apresentar um desfile com a cara de Fernando Pinto, como se tivesse sido feito pelo próprio. No entanto, a releitura de "Ziriguidum", que tinha como mote a conquista do espaço sideral, na comissão de frente e no abre-alas foi, de certo modo, o contrário da versão original, vanguardista e surpreendente. Os discos voadores aos olhos de 2014 pareciam retrô.

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