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Vitorioso nas prévias, Trump radicaliza ainda mais retórica que repele partido

Candidato não se intimida com sinais de hostilidade de líderes republicanos e insinua que pode levar adiante uma campanha pelo calote da dívida soberana

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

WASHINGTON - Expulsar imigrantes ilegais, impedir muçulmanos de entrarem nos EUA e construir um muro na fronteira com o México são propostas que ajudaram Donald Trump a incendiar uma parcela das bases republicanas. Mas o que funcionou nas primárias deve prejudicá-lo nas eleições gerais, quando ele terá de estender seu apelo mais além dos eleitores brancos zangados que garantiram sua nomeação. 

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A esperança da elite do partido de que Trump adotaria um tom moderado depois de sua consagração, na terça-feira, foi frustrada em poucos dias. O inevitável candidato republicano reafirmou suas posições mais controvertidas e acrescentou outras à lista. Entre elas, a insinuação de que os EUA poderiam dar calote em sua dívida soberana em uma situação de crise, com a exigência de que credores aceitem redução no valor a receber.

A vitória de Trump cindiu o Partido Republicano, mas promete unificar o Democrata em torno da missão de impedir sua chegada à Casa Branca. “Haverá uma enorme mobilização contra Trump, especialmente de negros, latinos e mulheres”, disse ao Estado David Carol, professor de Ciência Política da Universidade de Maryland.

Com seu discurso populista crítico a tratados comerciais e à globalização, o bilionário pretende atrair eleitores do esquerdista Bernie Sanders e conquistar novos seguidores para o Partido Republicano. Mas os números indicam que ele terá um longo caminho a percorrer. Pesquisa da CNN divulgada na quarta-feira mostrou que a democrata Hillary Clinton lidera a corrida presidencial com 13 pontos de vantagem em relação a Trump e é preferida por 61% das mulheres. O porcentual do bilionário nesse segmento é de 35%. A liderança da ex-secretária de Estado é avassaladora entre a parcela não branca do eleitorado, na qual bate o rival por 81% a 14%. Formado por negros, latinos e asiáticos, esse grupo representa cerca de 30% do eleitorado americano. Latinos. O problema para os democratas é o baixo índice de participação dos hispânicos nas eleições. Em 2012, apenas 48% dos latinos foram às urnas, enquanto a média de participação do total dos eleitores foi de 62%. Mas os ataques do candidato aos imigrantes devem mudar esse cenário. 

“Trump será o grande unificador e mobilizador do Partido Democrata, especialmente entre as minorias”, avaliou o cientista político Alan Abramowitz, professor do Emory College. Segundo o especialista, haverá aumento na participação dos hispânicos na disputa de novembro. “Tudo que contribuiu para o seu sucesso nas primárias o transformará em um candidato fraco nas eleições gerais.” Depois de dizer que mexicanos que imigram para os EUA são estupradores, assassinos e traficantes de drogas, Trump tentou, na quinta-feira, um gesto conciliatório que acabou tendo efeito oposto ao desejado. Para cumprimentar os mexicanos pelo 5 de Maio – data festejada pela comunidade nos EUA– o bilionário postou no Twitter uma foto sua sorrindo diante de um prato da culinária do México e a frase “Eu amo os hispânicos!”.

A mensagem provocou reação imediata nas redes sociais, com hashtags como #tacogate e #tacobowlgate de pessoas que a consideraram ofensiva e insuficiente para compensar a animosidade já demonstrada. Perguntado sobre o assunto, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Preibus, sorriu de maneira constrangida e respondeu: “Ele está tentando...”.

A conquista do eleitorado feminino pelo bilionário poderá ser dificultada pelo fato de sua opositora ser mulher, avaliou Carol. “A tática de intimidação que Trump usou até agora não funcionará necessariamente com ela”, afirmou. “Além disso, ele reage de maneira emocional diante de mulheres fortes”, lembrou, fazendo referência aos conflitos do bilionário com a âncora de TV Megyn Kelly e sua ex-adversária Carly Fiorina. “Ele sobreviveu, mas não foram seus melhores momentos.”

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