
12 de agosto de 2012 | 03h07
Pesquisador de ações afirmativas, Feres Júnior cita o exemplo da própria Uerj, a primeira universidade do País a implementar uma política de reserva de vagas. A instituição elaborou um relatório de performance que avaliou os estudantes entre 2004, ano do início das cotas, e 2010, quando a primeira turma a entrar no novo modelo concluiu o curso.
O trabalho mostrou que o grande desafio para os cotistas não está relacionado à defasagem, mas à evasão escolar. "As cotas transformaram a Uerj. Ela ficou mais democrática e não houve impacto na qualidade."
Ainda segundo o professor, uma "consequência positiva" do projeto de lei aprovado no Senado pode ser a valorização do ensino médio nas escolas públicas. "Ficará mais interessante para famílias de classe média baixa matricular os filhos na rede pública", diz Feres Júnior. Outro efeito seria o crescimento de "ilhas de excelência" no ensino superior privado, que atrairão "os filhos de uma faixa da classe média sem recursos para pagar por uma escola mais cara".
Na opinião da consultora de educação Ilona Becskeházy, haverá uma "fuga de cérebros" para universidades privadas, o que seria um "erro de estratégia". "Nossa necessidade mais premente é criar uma população economicamente ativa capacitada para aumentar a renda per capita e consolidar a posição de relevância do Brasil. Se você tira o componente da atração das melhores cabeças das universidades públicas, acaba desconcentrando esse esforço", diz.
Para ela, no entanto, o projeto de lei é "legítimo". "Até hoje, o Brasil não tinha tomado a decisão de popularizar o ensino superior público, sobretudo cursos como Medicina, Engenharia e Direito."
A consultora afirma que é hora de a sociedade pensar e se manifestar sobre as cotas. "A primeira impressão é de que essa lei é fruto de uma movimentação política para ganhar pontos com a população."
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