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Dengue é ameaça permanente

Doença deixou de ser sazonal e demanda esforço contínuo para redução de casos e óbitos

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Por Notas & Informações
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O governo do Estado de São Paulo acaba de lançar um plano de contingência para lidar com a proliferação de casos de dengue, chikungunya e zika, doenças que fazem parte do rol das arboviroses. A iniciativa envolve uma nova metodologia para o acompanhamento de casos e a resposta no atendimento aos pacientes.

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), mais de 8 mil casos da doenças já foram confirmados nestas primeiras semanas do ano no Estado. O Ministério da Saúde, por sua vez, acaba de confirmar a primeira morte por dengue no Estado em 2025; outros 45 óbitos em território paulista estão sob investigação.

Com número tão elevado de casos – mais de 20 municípios do Estado já decretaram emergência de saúde pública –, o plano do governo paulista é obviamente bem-vindo.

Ocorre que a dengue, que em 2024 superou a marca de 6 milhões de casos e matou 6.068 brasileiros, não pode mais ser tratada como evento sazonal, mas como desafio permanente. Planos como o do governo de São Paulo não deveriam ter caráter contingencial, pelo menos não enquanto a doença continuar se espalhando em níveis alarmantes como se tem observado desde pelo menos 2023.

Também é preciso que o Ministério da Saúde faça mais. É verdade que, como gosta de ressaltar a ministra Nísia Trindade, a frequência cada vez maior de eventos climáticos contribui com o aumento de casos. Episódios de chuvas e calor extremos tornam mais propício o ambiente para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, o agente transmissor da dengue.

Além disso, apesar da notícia promissora de que o Instituto Butantan desenvolveu um imunizante de dose única eficaz contra a dengue – ainda sob a necessária avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) –, infelizmente ainda não há vacinas para toda a população.

Enquanto se aguarda que a imunização contra a dengue esteja disponível para todas as faixas etárias, doses da vacina japonesa Qdenga disponíveis para adolescentes de 10 a 14 anos, público que concentrava o maior número de hospitalizações no ano passado e que por essa razão foi priorizado no esquema vacinal, não têm sido aproveitadas.

Em 2024, 3.208.954 brasileiros receberam a primeira dose do imunizante japonês, mas menos da metade retornou para receber a segunda – o esquema vacinal completo da Qdenga exige duas doses.

O Brasil orgulha-se de ser o primeiro país do mundo a oferecer um imunizante contra a dengue gratuitamente por meio da rede pública, o que certamente é positivo, mas não pode se dar ao luxo de deixar tantas vacinas sem uso.

Além da baixa adesão à vacina da dengue, houve perda bilionária com vacinas diversas descartadas pelo atual governo. O Ministério da Saúde atribuiu parte do prejuízo ao fato de ter recebido estoques próximos do vencimento da gestão Bolsonaro e também à desinformação.

Convém recordar, contudo, que o atual governo foi eleito justamente por prometer combater o negacionismo e diferenciar-se da gestão anterior, que foi temerária na administração da saúde pública. Logo, não basta ligar a dengue à mudança climática nem se autocongratular por comprar vacinas. É preciso combater o Aedes aegypti e a desinformação de forma permanente.