O órgão federal responsável por monitorar e alertar a população e autoridades dos desastres em formação no horizonte está enfrentando condições incompatíveis com o tamanho de sua missão. Segundo o Ministério Público Federal, o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) exibe déficit de servidores, insuficiência de equipamentos e dificuldades orçamentárias – uma tragédia em si, considerando a recorrência cada vez maior de eventos climáticos extremos, como as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, a seca recorde que atingiu a Amazônia ou as tempestades que castigaram recentemente a cidade de São Paulo.
Em 2024, o órgão bateu o recorde de alertas emitidos, com 3.622 avisos, entre riscos geológicos, como deslizamentos de terra, e riscos hidrológicos, como inundações, alagamentos e enxurradas. Mas o Cemaden tem menos de uma centena de servidores e seu orçamento é o mesmo desde 2019, isto é, R$ 20 milhões anuais. Maus presságios diante do contexto de escalada do aquecimento global, herança do volume de gases de efeito estufa já lançados e o consequente agravamento de fenômenos climáticos extremos – o que impõe o fortalecimento do órgão, não sua estagnação.
E antes que as cassandras gritem, convém dizer: criado em 2011 como resposta ao desastre na Região Serrana do Rio de Janeiro, que deixou 917 mortos, o Cemaden é hoje uma referência na tarefa de alertar com antecedência sobre eventos extremos e reduzir o número de vítimas e prejuízos. É um feito num país que conta com cientistas respeitados internacionalmente, mas que ainda deve preparo na prevenção e nas respostas a catástrofes naturais extremas – algo grave não só pela frequência e intensidade decorrentes do “novo normal” climático, como também pela grande atenção que se precisa destinar a populações em áreas de risco, baixo investimento de drenagem em áreas serranas e urbanas e ainda uma longa tarefa a cumprir na regularização de encostas e áreas mais propensas a alagamentos. Ainda falta ao País também uma maior integração entre os sistemas de alerta e defesas civis dos municípios e melhor revisão de protocolos.
Apesar disso, se há boas iniciativas a sublinhar são o trabalho do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e os alertas de qualidade já oferecidos pelo Cemaden. Para cumprir sua missão, o centro usa tecnologias para monitoramento do solo e das chuvas, entre outras ferramentas. Mas sua estrutura se mostra hoje claramente defasada.
Em contrapartida, segundo dados revelados pelo jornal O Globo e confirmados pelo Estadão, em 2012 o Cemaden operava com 72 funcionários e monitorava apenas 286 municípios. Doze anos depois passou a ter 96 funcionários para 1.133 municípios, onde se concentra 60% da população do País. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê repasses da ordem de R$ 82 milhões. Por ora, contudo, não passa de uma previsão.
No terreno movediço dos desastres naturais, não há milagres: nenhuma competência de profissionais dedicados é capaz de suprir o que só investimentos, tecnologia e mais recursos humanos podem resolver.