A ofensiva protecionista de Donald Trump com a taxação em 25% do aço e do alumínio importados tende a deflagrar uma guerra comercial global, como já demonstram reações de líderes da União Europeia e do Canadá que ameaçam revidar com o que está sendo classificado de “contramedidas proporcionais”. O alvo da artilharia de Trump é amplo e indefinido, vale para “todos os países, não importa de onde venham (os produtos importados)”, como fez questão de frisar.
O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, para onde enviou no ano passado quase 4,5 milhões de toneladas líquidas – atrás apenas do Canadá, de acordo com ranking de 2024 do American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Aço) –, optou, ao menos neste início explosivo da gestão trumpista, pela cautela e discrição. Trata-se de uma escolha prudente diante do quadro que está sendo desenhado, no qual o País não é alvo direto dos EUA e mantém com o mercado norte-americano uma pauta comercial bastante diversificada.
Além disso, como lembrou o pesquisador associado do FGV Ibre Samuel Pessôa, o Brasil tem taxas de importação que, em média, já são elevadas, o que limita sua capacidade de retaliação. “O melhor a fazer é ficarmos quietos”, recomendou, em entrevista à Globonews. Felizmente, esta parece ser a estratégia do governo até o momento. Na primeira manifestação oficial sobre o tema, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o Brasil não estimula e nem entrará em uma guerra comercial.
O diabo é conter a sanha inerente ao lulopetismo, com correntes que já defendem abertamente a prática de reciprocidade para os arroubos de Trump. De acordo com a Coluna do Estadão, esta tem sido, nos bastidores, a posição do assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim. Ao portal UOL, Amorim deu uma declaração ao mesmo tempo tranquilizadora e preocupante, em sua dúbia defesa da negociação com os EUA. “Uma guerra comercial não interessa a ninguém, mas não podemos ser totalmente passivos”, afirmou.
Levando em conta a forte ascendência do ex-chanceler sobre Lula da Silva, afirmações como essa, do tipo “uma no cravo, outra na ferradura”, causam mais apreensão do que as bravatas do líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), um dos defensores de que o Brasil revide com taxação das big techs americanas. Melhor conduzir com mais cuidado esse andor. Comércio exterior é um terreno delicado, que exige, antes de tudo, diplomacia. Priorizar a participação do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços neste debate é fundamental, caso o País pretenda tirar proveito da situação caótica criada pelos EUA.
Numa guerra comercial, como a que parece estar sendo contratada por um raivoso, teatral e imprevisível Trump, as dificuldades de realocação das vendas externas de aço serão ainda maiores diante da crise imobiliária da China e da recessão na Alemanha, por exemplo. Tampouco a economia dos EUA tende a ganhar com o estreitamento de seu mercado a produtos externos. Ao contrário, as estimativas são de um impulso inflacionário da economia norte-americana, diante do encarecimento dos insumos. Elevar o custo de matérias-primas como aço e alumínio afeta toda a cadeia produtiva, por exemplo, de automóveis, eletrodomésticos, embalagens e construção civil.
Em seu primeiro mandato, Trump também impôs tarifas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio, mas acabou negociando cotas para grandes fornecedores como Canadá, México e Brasil. Em entrevista ao Estadão, Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Washington (1999-2004), argumenta que o Brasil está bem posicionado para uma negociação por ser deficitário no comércio bilateral com os EUA. Trump indicou, repetidas vezes, ter sua mira voltada a países em situação de vantagem com os EUA. Canadá, México e China, que ampliaram a diferença entre suas exportações e importações de produtos norte-americanos, seriam o alvo principal. Ao Brasil, cabe seguir no caminho do pragmatismo e negociar em defesa dos interesses nacionais.