Todas as recentes pesquisas indicam que há uma divisão do eleitorado brasileiro em três campos praticamente iguais: esquerda, direita e centro. Embora permaneça a polarização entre os dois populismos (lulopetismo x bolsonarismo) – polarização, diga-se, alimentada por esses dois polos –, há um terceiro contingente de pessoas, quase do mesmo tamanho (ou até maior), que não adere a nenhum dos dois extremos geradores da disputa tóxica que está dilacerando a sociedade brasileira.
As pesquisas mostram, portanto, que não é audiência que falta ao centro democrático. É disposição para se apresentar como sujeito autônomo, como novo centro de gravidade da democracia em torno do qual as demais forças políticas possam orbitar.
O que falta então ao centro? Obviamente, falta articulação, falta um movimento minimamente orquestrado e, claro, faltam líderes visíveis que possam representá-lo e, eventualmente, vir a ser candidatos em 2026 e em 2030.
Os atores capazes de representar um centro democrático já existem no Brasil. Não precisamos ficar esperando três ou quatro décadas até que nasçam, cresçam e apareçam. Sim, eles já existem, só que ainda não assumiram o seu papel político.
Ocupando ou podendo ocupar posições no centro democrático, temos setores do MDB, do PSD, do PSDB, do Cidadania e de outros partidos. Chegou a hora de dirigentes e líderes desses partidos – como Baleia Rossi, Gilberto Kassab, Eduardo Leite, Raquel Lyra e outras lideranças com visibilidade e legitimidade – fazerem um chamamento aos seus correligionários para que entrem decididamente na articulação de um centro democrático e comecem a esboçar um programa comum, preparando as condições para o surgimento de uma candidatura capaz de representá-lo.
Bastaria uma articulação entre esses últimos para dar início a um movimento político que tenha como objetivo nos livrar da polarização – se não no curto, pelo menos no médio prazo. De qualquer modo, o médio prazo passa pelo curto. Se o centro democrático se omitir de intervir em 2026, esperando condições mais favoráveis em 2030 ou em 2034, perderá o momento propício para se afirmar como uma alternativa concreta, que não pode ser construída na boca da urna.
Porque, em termos políticos, 2026 é agora. E 2030 começa em 2026. Esperar que condições ideais caiam do céu apenas empurra, para um futuro ainda mais distante, qualquer solução.
Do movimento pela afirmação de um centro democrático devem participar não apenas os atores políticos citados aqui, mas também todos os setores sociais que concordam com essa proposta. Como escrevemos em nosso artigo no jornal O Estado de S. Paulo (Livres da polarização, de 11/5/2024), “a construção de alternativas à polarização terá de partir dos insatisfeitos com esse estado de coisas”, que sabem que somente “a democracia pode configurar ambientes pacíficos onde seus direitos políticos e suas liberdades civis sejam respeitados e valorizados”.
O regime político brasileiro não é uma ditadura, mas também não é uma democracia liberal ou plena. O que significa que estamos vulneráveis a restrições dos nossos de direitos e liberdades se não houver uma forte recusa, de parte ponderável da sociedade, à continuidade de um governo populista como o de Lula da Silva, que está querendo manter e escalar a polarização e usar a Suprema Corte para compensar o fato de que é minoria no País: minoria nos governos e Parlamentos estaduais e municipais, no Congresso Nacional, nas mídias sociais, nas ruas e nas urnas. E que, para tanto, namora com a ideia de censurar a liberdade de expressão no País.
E não é só isso. Não dá para manter um governo que está alinhando o Brasil ao eixo autocrático (Rússia, China, Irã, etc.), via Brics ou Sul Global, contra as democracias liberais. Não dá para manter um governo que é contra a autonomia do Banco Central e das agências reguladoras; que é contra as privatizações e a Lei das Estatais; que é contra uma reforma administrativa que viabilize um verdadeiro corte de gastos, dificultando que alcancemos o equilíbrio fiscal; que é favorável ao uso políticos dos bancos públicos e à escolha governamental de complexos industriais estratégicos para privilegiar investimentos públicos.
E nossa sociedade deve também manifestar uma forte recusa à volta ao poder do bolsonarismo, que já provou que não tem compromisso com a democracia.
Além disso, nossos direitos políticos e liberdades civis também correm o risco de permanecer ameaçados enquanto tolerarmos um Poder Judiciário sem controle externo e imune aos freios e contrapesos institucionais, usurpando funções do Legislativo e se metendo até em atribuições do Executivo.
Tudo indica que somam dezenas de milhões os que concordam com tais exigências de um centro democrático. Precisamos somente soltar as amarras que ainda impedem esse imenso contingente de se manifestar. A hora é agora.
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POLÍTICOS, SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO; MÉDICO; MÉDICO; E ESCRITOR