Muitas são as tendências apresentadas e estudadas para o ambiente empreendedor do País. Ao longo de 2024, vimos algumas delas se confirmarem, como, por exemplo, omnicanalidade, marketplaces, estratégias ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) e fortalecimento de comunidades. Tendências que envolveram os negócios em todo o mundo. Mas, ao olhar para o nosso país, entendo que para 2025 dois movimentos terão força e poder de crescimento: o empreendedorismo feminino e o afroempreendedorismo.
Das mais de 21 milhões de empresas ativas no Brasil, mais de 16 milhões são microempreendedores. Desse montante, 52% se consideram pretos ou pardos e 45,33% são mulheres. Números que demonstram o interesse desses grupos populacionais para empreender.
Apesar de toda a disposição, esses empreendedores enfrentam dificuldades como acesso às linhas de crédito, administração do negócio e falta de infraestrutura para realizar o trabalho. Fazendo de Minas Gerais um espelho do País, já que o Estado é o segundo com mais microempresas em atividade (cerca de 2 milhões), entendemos que esses grupos são diariamente desafiados a romper barreiras que impedem o avanço de seus negócios e, consequentemente, maior contribuição para a economia brasileira.
As mulheres, em especial, precisam driblar e conciliar responsabilidades que, muitas vezes, ocupam a maior parte do tempo. Quarenta e quatro por cento das empreendedoras que têm filhos que dependem de seus cuidados não têm com quem deixá-los enquanto trabalham, já o porcentual entre os homens é de 24%. Quando se trata de equilibrar a administração de uma empresa e a responsabilidade com os filhos, 17% das mulheres em contraste com 10% dos homens indicam enfrentar muita dificuldade. Isso sugere que as mulheres estão sujeitas a desafios adicionais devido à expectativa social de que desempenhem um papel mais significativo nos cuidados com as crianças.
Quase metade das mulheres (48%) acredita que tem mais dificuldades em ter um negócio de sucesso em comparação com os homens devido às múltiplas jornadas. Por outro lado, apenas 19% dos homens compartilham dessa opinião, o que pode refletir uma falta de reconhecimento ou consciência das duplas exigências que as mulheres frequentemente enfrentam.
Já na realidade do empreendedor negro, também considerando aqui as mulheres, a dificuldade mais destacada é o acesso ao crédito, citada por 48%. A falta de mão de obra qualificada (40%), a alta concorrência (32%), dificuldades de gestão financeira (30%) e a falta de infraestrutura adequada para o trabalho (26%) também são dificuldades citadas por uma parcela significativa desses micro e pequenos empresários.
Em relação à busca por crédito, 42% já buscaram algum empréstimo ou financiamento bancário para suas empresas. Dentre esses, apenas 10% obtiveram o montante de recursos solicitados, 15% conseguiram o empréstimo, porém em valor menor que o solicitado, e a maior parcela, de 17%, não conseguiu nada. A maior barreira enfrentada pelos empreendedores ao tentar acessar financiamento são os juros altos (22%), CPF negativado ou com restrição (14%) e falta de garantias ou avalistas (12%).
Ainda que esses empreendedores enfrentem as dificuldades acima listadas, ambos possuem comportamentos essenciais para vivenciar o empreendedorismo: sentem-se realizados ao empreender, identificam oportunidades de mercado e também uma fonte de renda. Esses componentes são essenciais para a sobrevivência de um negócio. Ademais, por serem dois grupos populacionais que enfrentam diariamente barreiras na sociedade, também mostram-se mais resilientes às mudanças e às crises econômicas.
Por enxergarem em suas famílias, amigos e em outros empreendedores a sua rede de apoio, esses empresários demonstram a urgente necessidade de maior atuação do poder público em prol do empreendedorismo afro e feminino. Ainda que instituições como o Sebrae, sistema da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e tantas outras promovam ações de capacitação e fomento ao empreendedorismo, a maioria das mulheres empreendedoras e afroempreendedores sentem-se, por muitas vezes, solitários nessa jornada.
Entendo que o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte deve priorizar pautas que dizem respeito a esses grupos. Em 2023, a pasta incorporou sugestões feitas pelo setor de comércio e serviços da capital mineira que, em resumo, apontavam a valorização das mulheres no ambiente empreendedor, buscando simplificar processos, reduzir custos e burocracias. Acompanhamos de perto o cumprimento dessas diretrizes e, sem dúvidas, ainda temos um longo caminho a percorrer.
Compondo a maior parte da população brasileira, sendo 53,7% pretos ou pardos e 51,5% mulheres, esses grupos populacionais são amplamente capazes de gerar postos de trabalho, renda e avanço socioeconômico para seus pares.
Acredito que fomentar o afroempreendedorismo e o empreendedorismo feminino é o caminho que deve ser privilegiado em 2025 e também nos próximos anos. O impacto desses negócios pode gerar rompimento de ciclos de violência doméstica, combate ao preconceito, redução da informalidade, diminuição dos índices de criminalidade e melhoria da qualidade de vida das camadas populares menos favorecidas.
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PRESIDENTE DA CÂMARA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE BELO HORIZONTE (CDL-BH) E DO CONSELHO DELIBERATIVO DO SEBRAE MINAS