A presidente Dilma Rousseff, neófita na política quando assumiu a Presidência em 2011, teve um primeiro mandato difícil. Durante seus quatro anos de comando uma economia próspera estagnou, furiosos protestos eclodiram pelo País e o pior escândalo de corrupção da História do Brasil foi revelado. A influência brasileira na região e no mundo diminuiu e as relações Brasil-EUA tornaram-se cada vez mais fragmentadas. Ainda assim, com a ajuda de Lula, Dilma foi reeleita por pequena margem, em outubro. Após sua posse, em 1.º de janeiro, a pergunta crucial é se ela será capaz de reverter a má sorte brasileira. Isso depende principalmente de seu sucesso em reavivar a economia. Quando Dilma foi eleita pela primeira vez a economia operava perto do auge, com crescimento de 7,5% em 2010. No ano passado a economia entrou em recessão, a inflação subiu constantemente, o desequilíbrio fiscal acentuou-se e o País teve seu pior déficit comercial em 15 anos. A culpa não é toda de Dilma. A crise financeira global, que primeiro dizimou EUA e Europa, começou a afetar o Brasil e outros países em desenvolvimento. A desaceleração do hipercrescimento chinês, que sustentava a demanda e o preço da soja, do ferro e de outras commodities do Brasil para exportação, foi particularmente danosa. O mesmo vale para a redução do fluxo de capitais para os mercados emergentes. Mas o governo Dilma também errou. Tentou revitalizar a economia com um pacote de estímulo mal concebido, aumentando impostos e gastos públicos, já altos, e acabou alimentando a inflação. Os subsídios do governo para manter baixos os preços da energia e outros só pioraram as coisas. Barreiras à importação criadas para aumentar a produção interna fizeram do País um dos mais fechados e protecionistas do mundo. Pouco foi feito para melhorar a precária infraestrutura ou os deficientes sistemas de saúde e ensino. Os problemas econômicos do Brasil foram um dos principais fatores que desencadearam a insatisfação política e a queda na aprovação de Dilma. Mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas expressar a frustração com o desperdício do governo, a corrupção e os péssimos serviços públicos. Mas, em parte, os protestos refletiram o sucesso brasileiro na construção de uma classe média emergente com demandas em rápida expansão. Outros retrocessos afetaram o País. A espionagem dos EUA, chegando ao gabinete presidencial e à Petrobrás, criou profundo cisma entre os governos dos dois países, ainda não superado. Há mais de um ano que as relações bilaterais são frias e distantes. Independentemente disso, a petroleira envolveu-se num escândalo de corrupção cada vez mais grave, um esquema do próprio PT, da presidente, para desviar dinheiro de contratos superfaturados. Dilma foi reeleita pela pequena margem de 3% dos votos. A vitória, numa campanha agressiva e de baixo nível, mostrou a força eleitoral dos grupos de renda mais baixa. Estes se mantiveram leais a Dilma e Lula por causa de programas sociais e da criação de empregos que tiraram muitos da pobreza extrema. Em campanha, Dilma enfatizou a necessidade de reparar a economia - aumentar o crescimento e baixar a inflação. Quem votou contra ela se mostrou cético e preocupado com como ela conseguiria tal resultado. Dilma continuaria com a estratégia de desenvolvimento puxado pelo Estado, vista no seu primeiro mandato, que depende muito de encomendas do governo e recursos públicos para definir o curso da economia do País? Ou mudaria para uma abordagem mais ortodoxa, dependendo mais das forças do mercado? Suas primeiras decisões - designando um novo Ministério - sugerem que prevalecerá esta abordagem. Embora ainda haja dúvidas, as novas nomeações deram mais confiança à comunidade empresarial brasileira e a investidores estrangeiros. Estes deram boas-vindas especialmente à escolha de Joaquim Levy para o cargo-chave de ministro da Fazenda. Funcionário do alto escalão do governo Lula, ele já teve cargos importantes no FMI e no Banco Interamericano e ultimamente era um dos principais diretores do segundo maior banco privado do País. Dilma ainda indicou outros nomes favoráveis ao mercado para a maioria das demais pastas relevantes para a economia. Agora a questão é se ela dará aos novos ministros a autoridade e a independência necessárias para redirecionar a política econômica - e, igualmente importante, ter sucesso na geração do apoio político necessário para fazer mudanças drásticas que são alvo de disputa política. Embora o custo político inicial seja alto, uma economia no rumo certo dará ao governo Dilma grandes vantagens ao lidar com outros desafios, internos e externos. Uma economia mais vibrante ajudará a restaurar a influência e a capacidade de liderança do Brasil na América Latina. Vai também elevar a estatura e a influência global do País e certamente torná-lo mais atraente como parceiro comercial e local de investimento. Um tema que precisa de mais atenção de Brasília é o que pode ser feito para superar as diferenças com os EUA. A retomada do crescimento das duas economias certamente melhoraria as perspectivas. Afinal, os dois países consistentemente dão a mais alta prioridade ao lado comercial da sua relação. A recente revisão do presidente Obama da política dos EUA para Cuba, aplaudida pelos brasileiros, também deve ajudar e abrir caminho para que os dois países se envolvam mais construtivamente em muitos problemas regionais. Isso seria especialmente oportuno com a próxima Cúpula das Américas, em abril, e o início do mandato de um novo líder da Organização dos Estados Americanos, em junho. A presença do vice-presidente Joe Biden na cerimônia de posse de Dilma, em 1.º de janeiro, é o mais recente sinal do interesse de Washington na reconstrução das azedadas relações entre Brasil e EUA. Dilma precisa agora decidir como será sua resposta. Mas são principalmente as decisões de Dilma para a política econômica que vão determinar o sucesso do seu segundo mandato, definindo o futuro do País. PRESIDENTE EMÉRITO DO DIÁLOGO INTERAMERICANO