Arcabouço fiscal
O limite da insensatez
No Estadão de ontem, duas informações preocupam: STF manda excluir verbas do Judiciário do limite de gastos do arcabouço fiscal (B3); e o ministro Ricardo Lewandowski propõe excluir do arcabouço fiscal os gastos com segurança (Responsabilidade fiscal de mentirinha, A3). Qualquer leigo se pergunta se esses gastos se efetivarão e conclui que terá de haver recursos, provenientes dos impostos que pagamos. Este pessoal chegou ao limite da insensatez e está achando que dinheiro nasce em árvore. Com tal nível de administração e entendimento de ministros do STF e da Justiça, só nos resta aceitar que vamos cair no precipício.
Silvano Antônio Castro
São Paulo
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Câmara de SP
Emendas impositivas
Pelo editorial O apetite dos vereadores de SP (Estadão, 14/4, A8) soubemos que os vereadores de São Paulo articulam para obrigar a Prefeitura a executar as emendas indicadas por eles, com base no exemplo do Congresso Nacional. Enfim uma má notícia mostrando que nossos representantes na Câmara estão vivos, pouco úteis e ambiciosos.
Carlos Gaspar
São Paulo
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Direita brasileira
‘Surto de sanidade’
Sobre a notícia de que a Direita espera que Bolsonaro tenha ‘surto de sanidade’ por indulto e escolha Tarcísio em 2026 (Coluna do Estadão, 13/4, A2), a pergunta é se essa “direita” é aquela que defende anistia ampla, geral e irrestrita para Bolsonaro e seus acólitos ou a direita cupim que atrás de moralismos ultrapassados esconde sua natureza divisionista e predatória. O apoio direto do governador Tarcísio de Freitas à fanfarronada promovida pelo ex-presidente que admira o coronel Ustra cria nos paulistas um sentimento de amargura e desalento, e apenas escancara o lobo em pelo de cordeiro. O Brasil não precisa de um novo Maluf, nem de coronéis Erasmo Dias no comando da segurança do Estado, nem de uma direita que nada propõe. Está na hora de o centro criar juízo e articular um candidato que rompa a polarização autoestimulada por Lula e Bolsonaro, em prejuízo da cidadania e do futuro do País, se é que este país ainda tem tempo para construir algum futuro minimamente decente no mundo trumpiano.
Jorge Babadópulos
São Paulo
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8 de Janeiro
Anistia
Assinante do Estadão, concordo com sua linha editorial. Não gostei, entretanto, do editorial Bolsonaro atrapalha o Brasil (12/4, A3). Não sou bolsonarista nem lulista, sempre defendi, e continuo defendendo, uma alternativa a esses dois, que reputo despreparados e populistas. Vejo, contudo, muita injustiça cometida contra os manifestantes do 8 de Janeiro. Por isso defendo que a discussão da anistia tem sim, de ser priorizada. Classificar a todos como vândalos é um equívoco do editorial. Pelo que acompanhei na mídia, e no próprio Estadão, o vandalismo foi cometido por uma pequeníssima parcela dos manifestantes. Por sua vez, julgar Bolsonaro e parte do seu entorno é válido, mas não pelo STF, que já perdeu a credibilidade perante grande parte dos brasileiros, tendo sido, inclusive, acertadamente criticado em outros editoriais deste jornal. Quanto à importância da crise global gerada por Trump, sem dúvida é um assunto relevante, mas o que precisaríamos fazer para nos proteger e aproveitar as oportunidades seria procurar novos mercados e reduzir o déficit público. E reduzir o déficit público com Lula só pensando na reeleição é uma fantasia.
Marcos Lefevre
Curitiba
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Unicamp
Política afirmativa
O editorial A armadilha das cotas identitárias (11/4, A3) critica a decisão da Unicamp de adotar cotas para pessoas trans, travestis e não binárias. Ao fazer isso, o jornal ignora não só os dados concretos e os fundamentos jurídicos que sustentam essa política, mas também os princípios constitucionais que regem a construção de uma sociedade mais justa. As cotas trans não são um privilégio. São instrumentos de equidade – e, portanto, de justiça. Ao enfrentar desigualdades estruturais, a universidade pública cumpre seu papel constitucional: não o de repetir a exclusão do mundo lá fora, mas o de corrigi-la. Equidade não é um desvio da igualdade: é o único caminho para alcançá-la de fato. Por isso, a decisão da Unicamp não só é legítima – é necessária. E deve ser defendida.
Antonio J. A. Meirelles, reitor da Unicamp
Campinas
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Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br
‘BANANISTÃO’
A leitura do artigo Só para os ‘inocentes úteis’? na página A10 do Estadão de domingo (13/4) me causou certo incômodo. Tudo ali seria perfeitamente aceitável se fôssemos moradores do Japão ou, quem sabe, de algum país nórdico. O problema é que estamos no Brasil. E, diante do que vemos por aqui diariamente, depredação é fichinha. Vivemos num País onde facções criminosas controlam territórios, colarinhos brancos seguem impunes, e o absurdo virou rotina institucionalizada. Iria até desenvolver essa argumentação neste nobre fórum, mas, felizmente, o brilhante J. R. Guzzo já fez isso por mim, com maestria, na página seguinte (Estadão, 13/4, A11). Ele desenhou com precisão o retrato do nosso querido “Bananistão”.
Fábio Soares
São Paulo
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EMENDAS PARLAMENTEARES
Parlamentares repassam R$ 550 mi em emendas para outros redutos (Estadão, 14/4, A7). Pergunto, por ação ou por omissão: para que servem 513 deputados federais e 81 senadores da República? Quem me responde?
Arcangelo Sforcin Filho
São Paulo
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TETO CONSTITUCIONAL
Os supersalários no Judiciário vêm ofendendo a sociedade nos últimos tempos, uma vez que holerites com milhares de reais, onde o grosso dos numerários não pagam sequer Imposto de Renda, embora mais parecem fonte de fortuna fácil, não podem ser chamados de holerite. Ao que tudo indica, como chama a atenção o editorial Teto constitucional em ruína (Estadão, 13/04, A3), esses assustadores numerários, criados administrativamente e sujeitos a uma interpretação em causa própria, não vão ter mesmo limite. Parece ser este o ovo da serpente.
José Elias Laier
São Carlos
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PARAÍSO
O Brasil é um paraíso para os políticos em geral. Além dos supersalários do Judiciário, parte deles conta também com um escritório de advocacia por trás, onde os familiares trabalham. Esperar que o Congresso moralize alguma coisa é uma utopia das grandes. O povo, que poderia se manifestar, tem medo. A mídia também. A verdade é que estamos sem rumo e vamos sobrevivendo, mas não se sabe até quando.
Nelson Falseti
São Paulo
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PL DOS SUPERSALÁRIOS
Entendo perfeitamente a irresignação da leitora (Fórum dos Leitores, 12/4, A4). Como ressaltado, “além de ilegal, é imoral a aprovação de penduricalhos e vantagens que superem o teto salarial do funcionalismo público”. Virou um salve-se quem puder. Na realidade, as instituições, que deveriam defender os mais vulneráveis, destinam o dinheiro público para uma ação entre amigos.
Alvaro Augusto Fonseca de Arruda
São Paulo
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ANISTIA
Não faço parte dessa polarização e entendo que a anistia tomou essa dimensão por irresponsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF). Se tivessem agido de acordo com a Constituição, o processo deveria ter iniciado na primeira instância e seguido os trâmites, pois ninguém dos condenados usufruem foro privilegiado. Abusando de suas prerrogativas, aplicando penalidade exagerada, além da morosidade, e aplicando penas de baciada, além de dar a impressão de estar agindo politicamente e aplicando a Constituição conforme a conveniência, o STF é responsável por essa situação que só prejudica o País. O ideal seria que essa disputa entre bolsonaristas e petistas acabasse e surgisse uma terceira opção racional, que efetivamente se dedique a criar e desenvolver uma política de desenvolvimento segura e próspera para os brasileiros.
Silvano Antônio Castro
São Paulo
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OBSTÁCULOS
Bolsonaro atrapalha o Brasil (Estadão, 12/4, A3). Sim, pessoas como Bolsonaro e Lula atrapalham o Brasil.
Albino Bonomi
Ribeirão Preto
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BRASIL DEVE ENSINAR
A maior democracia do planeta precisa rever seus conceitos. Um criminoso condenado se elege presidente da República, é assessorado por um ex-presidiário e conduz o país à ruína moral e econômica. Donald Trump e Steve Bannon não enfrentam qualquer resistência das instituições americanas para conter suas ações ruinosas. A América, quem diria, deveria aprender uma coisinha ou outra com a segunda maior democracia do planeta. O Brasil poderia ensinar aos americanos sobre a Lei da Ficha Limpa, afinal, a ideia romântica de deixar tudo nas mãos dos eleitores nem sempre funciona, ainda mais com a promiscuidade cada vez maior entre a política e o crime organizado.
Mário Barilá Filho
São Paulo
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CARONA POPULISTA
O presidente Lula, mais por baixo do que umbigo de cobra, lançou uma mão de ações populistas requentadas visando melhorar seu péssimo perfil. Com ar de salvador da Pátria, lançou o slogan “Brasil dando a volta por cima” – só indicado para quem está por baixo. Pegou carona na antecipação do pagamento do 13º salário aos aposentados e pensionistas. Ofereceu empréstimos aos brasileiros – para se enforcarem mais ainda. Prometeu vacinas diversas ao povo, garantindo imunização geral. Já quanto aos problemas da violência e da inflação crescentes no País, quedou-se por oferecer esperanças ao abandonado e sofrido povo. É Lula procurando condições de se safar da sua mediocridade.
Júlio Roberto Ayres Brisola
São Paulo
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MACHISTA
Um presidente da República chamou a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) de “mulherzinha”. Ela não é “mulherzinha”, ela é Kristalina Georgieva, mulher, que chegou com méritos a um alto posto de uma organização internacional. Ele é Lula, um machistazinho cada vez mais perdido, mais reprovado pela população, mais ridículo e envergonhando o País a cada vez que escancara sua falta de educação. “Cala a boca, Magda.”
Luiz Gonzaga Tressoldi Saraiva
Salvador
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DESORDEM GLOBAL
A desordem global atual entre os EUA e a China poderá ter consequências inimagináveis no planeta. Além das perdas de trilhões de dólares nas bolsas globais, bem como a alta dos juros dos títulos da dívida americana, ainda há o temor sobre o futuro da economia do mundo. Quem viver verá.
José de Anchieta Nobre de Almeida
Rio de Janeiro
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VARGAS LLOSA
Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura em 2010, recentemente falecido, declarou, poucos meses antes das eleições presidenciais de 2022 no Brasil, que, apesar de considerar Bolsonaro um “caso muito difícil” de admitir para um liberal, por seu negacionismo diante de questões ligadas à pandemia, além de outras posturas às vezes desconcertantes, o preferia. Ao mencionar que o atual mandatário brasileiro esteve preso, condenado por corrupção, elogiou o ex-juiz Sérgio Moro, ordenador de seu encarceramento, tendo visto nele integridade absoluta, moralidade, decência e respeito às leis, embora fosse reconhecido como incompetente e suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A história recentíssima mostrou, portanto, que os pontos de vista do competente escritor não foram confirmados por aqui e que, naturalmente, deve ter-se convencido que trabalhar com literatura é muito mais fácil e gratificante do que garimpar nas pradarias traiçoeiras da política e da justiça.
Paulo Roberto Gotaç
Rio de Janeiro
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NEYMAR JR.
Neymar festeja retorno e cobra mais ‘personalidade’: ‘Mostrar quem realmente é o Santos’ (Estadão, 13/4). Nada a festejar. Em nove pontos disputados, o Santos ganhou apenas um, amargando as últimas posições na tabela do Brasileirão 2025. Jogando contra o Fluminense para se defender, tentando apenas segurar o empate, o Santos recebeu um justo castigo no apagar das luzes, sofrendo um gol improvável. Neymar Jr. precisa entender que o poderoso Santos de outrora não existe mais e, se providências imediatas não forem tomadas, o “glorioso alvinegro praiano” deve retornar à série B.
Maurílio Polizello Junior
Ribeirão Preto
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CALÇADAS PARA CARROS
Em São Paulo, a maior metrópole do Brasil e uma das maiores cidades do mundo, as ruas são construídas para carros, ônibus, bicicletas, motos e veículos. As calçadas também. Os pedestres que se esfolem, caindo nos degraus e rampas das calçadas modificadas para facilitar a entrada e saída de veículos de garagens e estacionamentos. Inacreditável o desdém com os pedestres em São Paulo.
Paulo Sérgio Arisi
São Paulo
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PROFESSOR ÚTIL
Sim, eu fui um professor muito útil. Moro no 10º andar de um edifício de apartamentos (alugado), onde tenho uma boa visão de minha cidade. Da minha janela que dá para o norte, posso ver os muros, cheios de arames enrolados, da prisão local. Nela está o meu ex-aluno Jorge, excelente rapaz, com um grande futuro pela frente. Hoje, ele está lá porque matou uma pessoa numa discussão de trânsito. Como professor dele, fui muito útil, pois ensinei todo o sistema digestivo das minhocas, de acordo com os conteúdos programáticos desenvolvidos por especialistas e doutores da Secretaria de Educação do meu Estado e do Ministério da Educação. Olhando agora pela janela que dá para o pôr do sol, posso ver o prédio e as janelas cheias de barras metálicas do hospital psiquiátrico, recém-inaugurado, orgulho dos políticos locais. Minha vista já fraca não consegue ver direito, mas numa das janelas está o João Paulo, batendo a cabeça incessantemente contra as barras metálicas da janela, em sua insanidade. Recordo-me bem deste ex-aluno, interessado em História e Geografia, queria ser professor de Geografia quando se formasse. Queria viajar pelo mundo. Eu fui muito útil como professor do Jorge, pois ensinei todo o ciclo da estação das neves no Himalaia, de acordo com os conteúdos programáticos desenvolvidos pelos especialistas. Virando-me agora para a terceira e última janela de meu apartamento, consigo ver o prédio do hospital geral do município caindo aos pedaços, onde em uma UTI está minha ex-aluna Angela. Cheia de tubos, fios e aparelhos, ela tenta sobreviver depois de uma overdose causada por uma mistura de drogas. Ela era uma menina bonita. Loira, de cabelos cacheados, que amava a vida. Dizia que queria ser influencer. Eu, como seu professor, fui muito útil, pois ensinei para ela toda a importância da extração e uso da madeira na Mesopotâmia, de acordo com os conteúdos programáticos desenvolvidos por especialistas. Sim, fui um professor muito útil para estes jovens, sempre seguindo os conteúdos programáticos estabelecidos por doutores e especialistas. É uma pena que a vida real não tenha sido chamada para colaborar nisso tudo. Agora, velho, cansado e maltratado pelas inúmeras horas de aulas e péssima aposentadoria, já não tenho mais forças para gritar e espernear contra isso – sou somente um. Ninguém me ouviria, e já estou de partida. Ainda bem que os doutores e especialistas em educação continuam chegando aos milhares todo ano.
Paulo Mazzei
São Paulo