Mais importante do que suas decisões sobre juros, anunciadas na quarta-feira e amplamente esperadas, foi o recado embutido nos comunicados dos Bancos Centrais (BCs) do Brasil e dos Estados Unidos, abrindo a possibilidade do fim do atual ciclo de aperto monetário. Não de imediato, mas aumentaram as chances de uma mudança acontecer neste ano.
O Banco Central brasileiro manteve a taxa Selic em 13,25% ao ano pela sexta vez consecutiva. O Banco Central americano (o Fed) elevou os juros em 0,25 ponto porcentual para 5,25% ao ano. Poucos especialistas apostavam que seriam aprovadas medidas diferentes dessas.
Como em muitos outros países, a expectativa das autoridades é forçar a queda da inflação com o desaquecimento da economia via aperto de crédito – o que já se observa globalmente. O Banco Central Europeu (BCE) também mostrou moderação ao elevar sua taxa de juros em 0,25 ponto porcentual (de 3,50% para 3,75%), e nas três reuniões anteriores o aumento havia sido de 0,50 ponto.
No caso brasileiro, chama a atenção a sutil, mas relevante, mudança nas palavras do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom). Nos informes anteriores, desde agosto do ano passado, o BC tinha alertado que não hesitaria em retomar o ciclo de aumento dos juros caso o processo de desinflação não transcorresse como esperado. Desta vez, foi acrescentado que se considera um novo aperto monetário “um cenário menos provável”. E avaliou que o envio pelo Ministério da Fazenda ao Congresso de um plano fiscal reduziu a incerteza nessa área.
No caso americano, a tendência seria de novos aumentos dos juros nos próximos meses, como disse o presidente do Fed, Jerome Powell. Pesou, porém, a crise bancária que se desenrola no país desde março. Bancos regionais dos EUA entraram em colapso, com impacto sobre a oferta de crédito. Se o Fed continuasse elevando o custo do dinheiro nas próximas reuniões, a tendência seria de aprofundar o cenário desfavorável ao funcionamento de bancos.
Como em outros países, inclusive nos EUA, a economia brasileira vive momentos de indefinição sobre seus rumos no segundo semestre de 2023, com indicadores muito negativos e outros sintomas não tão ruins. A perspectiva de redução dos juros, ainda que mais demorada do que gostaria o governo do presidente Lula da Silva, pode ajudar a animar investimentos no setor produtivo.
Desde a posse da nova administração, a política monetária do BC tem convivido com fogo cerrado do próprio Lula e dos ministros da área econômica, além de petistas. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, repetiu que “nenhum banco central quer juros altos, a gente quer baixar os juros”, e declarou que juros altos são um problema de todos – governo, sociedade e Banco Central. Tem razão. Quanto mais responsável for o governo e quanto maior for o respeito pelos fundamentos da economia, maior a possibilidade de o Brasil voltar a conviver com um nível de juros civilizado.