A Universidade de São Paulo (USP) colocou à disposição de seus professores um programa de verificação de similaridade de textos em português e inglês, cujos serviços serão oferecidos pelo Sistema Integrado de Bibliotecas. Paralelamente, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) informou que deixará de patrocinar projetos de instituições universitárias que não criarem um escritório destinado a estimular a ética e a integridade acadêmica na graduação e na pós-graduação.
As duas iniciativas têm o objetivo de coibir fraudes, desvios de conduta e, principalmente, plágios nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), nas dissertações de mestrado, nas teses de doutorado e nos ensaios e artigos publicados em revistas científicas. Segundo as Pró-Reitorias de Graduação e de Pós-Graduação da USP, caberá a cada professor e membro de conselho editorial de suas publicações apontar, com base nas informações propiciadas pela plataforma digital, os casos de plágio. Além da produção de texto, essa plataforma permite a identificação de similaridades relativas à metodologia científica. Essas medidas são decisivas para o sucesso das comissões de ética que foram criadas nos últimos anos pelas faculdades e institutos da maior universidade brasileira, com o objetivo de identificar casos de fraude na redação de trabalhos acadêmicos.
Já a Fapesp vem, há cinco anos, destinando 10% dos recursos de cada projeto aprovado para a criação dos escritórios de integridade acadêmica. Só em 2016, a Fapesp transferiu R$ 56 milhões a 14 instituições. Até agora, contudo, poucas delas – como é o caso da Universidade Federal do ABC (UFABC) – criaram órgãos com essa função fiscalizadora e os colocaram em seu organograma. As demais instituições universitárias em funcionamento no Estado estão atrasadas e a Fapesp, que é uma das maiores agências de fomento à pesquisa científica no País, as está pressionando para que tornem mais rigorosas suas culturas acadêmicas. Para a diretoria científica da Fapesp, o número de casos de plágio sob investigação cresceu significativamente, mas as comissões de sindicância para julgá-los têm sido muito lenientes. A situação é tão preocupante que, em 2014, com base nos relatórios encaminhados por consultores acadêmicos que monitoram o desenvolvimento de cada pesquisa financiada, a agência tomou uma iniciativa inédita, divulgando na internet uma lista com os nomes de pesquisadores que plagiaram textos, apropriaram-se de ideias de outros pesquisadores e cometeram desvios éticos, manipulando metodologias para alterar o resultado de pesquisas.
O crescimento vertiginoso dos casos de plágio no universo acadêmico é consequência da proliferação das redes digitais de comunicação. Com o surgimento da comunicação online, da expansão da internet e da ampliação do acesso aberto a um sem-número de fontes de informação, muitos acadêmicos perderam a noção da gravidade do plágio e suas implicações morais e legais. Pela facilidade dos mecanismos de corte e cola ou mesmo por enviesamento ideológico, passou-se a ignorar os direitos autorais e a propriedade intelectual.
Quando alguém copia um trabalho, não somente prejudica outro pesquisador, como compromete o próprio desenvolvimento da ciência. Por isso, desde o início da atual década várias universidades brasileiras impuseram novas regras para disciplinar as citações e referências dos trabalhos acadêmicos. E, partindo da premissa de que o sucesso do combate ao plágio precisaria ser mais pedagógico do que punitivo, adotaram programas de conscientização e prevenção de ocorrência de fraudes.
Apesar de incentivados pelas autoridades educacionais, os manuais de boas condutas científicas elaborados por esses programas não produziram os efeitos desejados. Foi esse o motivo que levou a USP e a Fapesp a adotarem medidas mais rigorosas para preservar a integridade das pesquisas científicas que apoiam e desenvolvem.