Crescimento mais firme só virá com mais e melhores investimentos produtivos, mas o Brasil continua investindo pouco e nem esse pouco foi mantido em agosto, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Acomodação passageira é a noção mais otimista para descrever a perda de impulso, naquele mês, da atividade industrial e da formação bruta de capital fixo, dois indicadores essenciais do vigor da economia. O valor aplicado em capital fixo – máquinas, equipamentos, outros ativos fixos e construções – foi 0,7% menor que o registrado em julho e apenas 0,5% maior que o de agosto de 2018, informou o Ipea. Nas empresas, esse tipo de gasto aumenta a capacidade produtiva, sua eficiência e seu poder de competição, se bem planejado e bem executado. Quando aplicado à infraestrutura, amplia e torna mais eficientes os sistemas de transportes, de produção e distribuição de energia, de abastecimento de água, de saneamento e de prestação de outros serviços de uso público.
O consumo aparente de máquinas e equipamentos foi 1,3% menor em agosto que em julho, segundo a estimativa do Ipea. Para esse cálculo se soma a produção interna com a importação e exclui-se o total exportado. A construção civil encolheu 1,1% e a incorporação de outros ativos fixos diminuiu 0,7%. No trimestre móvel encerrado em agosto o total investido ainda superou por 2,1% o do período de maio a julho. Na comparação do último trimestre móvel com o correspondente do ano anterior houve um avanço de 0,5%. No acumulado em 12 meses o aumento foi de 2,5%, puxado pelo ganho de 4,1% no item máquinas e equipamentos. Na construção civil houve recuo de 0,7%.
O escasso fôlego do investimento empresarial fica evidente quando se examinam dados da produção industrial e das importações. Em agosto, a produção de bens de capital foi 0,4% menor que a de julho e 3,7% menor que a de um ano antes. O volume produzido de janeiro a agosto superou por 0,7% o dos primeiros oito meses de 2018. Em 12 meses o crescimento foi de 1,6% – desempenho melhor, em todo caso, que o da indústria geral, com queda de 1,7%. Mas a fabricação de bens de capital, no trimestre móvel terminado em agosto, foi 33,4% menor que a do período de julho a setembro de 2013, pico da série.
Os dados também são feios quando se consideram os valores importados. Entre janeiro e setembro deste ano, o valor gasto com a importação de bens de capital, de US$ 19,78 bilhões, foi 7,7% menor que o de igual período de 2018, pela média dos dias úteis. Excluídos da conta os equipamentos de transporte industrial, a queda foi de 10%, segundo o balanço do Ministério da Economia. A queda ocorrida nos últimos anos também fica muito clara quando se considera o investimento fixo como parcela do Produto Interno Bruto (PIB). A última comparação oficial dessas duas séries de valores aparece nas contas nacionais do segundo trimestre. Entre abril e junho deste ano, a formação bruta de capital fixo correspondeu a 15,9% do PIB.
Quando se consideram todos os segundos trimestres a partir de 2000, o pico ocorreu em 2013, quando o total investido equivaleu a 21,1% do PIB. A segunda maior taxa havia sido a de 2012 (20,6%). Nesses 20 anos, só em quatro o investimento igualou ou superou 20% do PIB, na série de trimestres de abril a junho.
Durante anos, ministros econômicos afirmaram o objetivo de levar a taxa de investimento fixo a cerca de 24% do PIB. Esse era considerado o mínimo necessário para garantir, de forma sustentável, um crescimento econômico igual ou superior a 4% ao ano. Países latino-americanos mais dinâmicos têm mantido investimentos nessa faixa ou até acima. Na Ásia há taxas superiores a 30%. Isso requer boa gestão das contas públicas, políticas claras e previsíveis e expectativas de crescimento por longo período. Financiamento suficiente e juros toleráveis também são condições importantes, mas insuficientes quando falta segurança ao gestor da empresa. Nenhuma dessas condições favoráveis tem sido observada no Brasil há muitos anos.